quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

It's been a long day, without you my friend, and I'll tell you all about it when I see you again..

Ontem minha irmã enviou um vídeo do meu sobrinho saindo da creche no seu último dia de aula. Começou o ano sendo levado no colo e saiu andando carregando suas próprias coisas. Um mocinho, nas palavras dela. Tive que lutar contra as lágrimas. Aliás passei um bom tempo lutando com essas teimosas insistentes. Essa é minha última semana no trabalho antes do recesso, o ano praticamente terminou. 365 dias que passaram num piscar de olhos. Lembro do meu aniversário de 2013, quando fomos buscar a Preta no sul para vir morar com a gente, e ela contou a grande novidade de que estava à espera do primeiro pequeno da família. Lembro do verão que seguiu, ela já barriguda e nós decidindo encomendar nosso próprio pequeno. Lembro de como ele parecia pequeno e frágil na primeira vez que o vimos. De um tisco de gente que dava pra segurar num braço a um meninão finalizando seu primeiro ano 'escolar'. E de todo esse período, não consigo encher as duas mãos se eu for contar todas as vezes que consegui visitá-los.
Morar longe sucks, com o perdão da palavra - mas às vezes só uma palavra dessas tem a intensidade suficiente que precisamos para definir os sentimentos. De vez em quando acompanho conversas no chat da família, uma irmã falando para a outra que vai passar na casa dela mais tarde, e aquele pequeno diálogo parece tão surreal para mim que chega a doer. Não sei o que é dar uma passadinha na casa de um amigo ou parente há pouco mais de 4 anos. Desde que eu deixei o Sul para trás para me juntar ao respectivo, perdi esse privilégio. As visitas que faço são programadas com antecedência de meses, passando sempre pelo ritual de pesquisas frenéticas por ofertas de passagens e com a eterna frustração de saber que eu jamais conseguirei ver todas as pessoas e fazer tudo que eu gostaria nos parcos períodos que estou por lá.
Morar longe é ver a vida das pessoas que você ama passando através de vídeos e fotos. É ter que aprender a se contentar com a tela do celular, aprender a sufocar a saudade e fingir que tá tudo bem mesmo quando o peito parece explodir de tanto querer estar perto. É não poder contar com aquela sopinha ou aquele chá que só a sua mãe sabe fazer quando você fica doente. É nunca ter com quem deixar o pequeno para poder dar uma passeada a dois. É ver os amigos combinando confraternizações de final de ano nos grupos de whatsapp e resistir ao impulso de pegar o primeiro vôo para poder participar também. É fazer de conta que emoticons são tão reconfortantes quanto beijos e abraços. É não saber se o seu sobrinho vai lembrar de você na próxima vez que te ver. É ver ele e o seu pequeno brincando juntos e imaginar como seria linda a amizade entre eles se não houvesse distância...
São quase mil quilômetros nos separando. Mas tem dias que parece que é um mundo inteiro. Quando eu assisti ao vídeo que minha irmã mandou, senti quase como se eu morasse na lua. Criar o pequeno só eu e o respectivo, longe das demais pessoas que eu tanto amo, é a coisa mais dolorida que eu já vivi. E isso incluindo um parto natural de 8 horas sem nenhum tipo de anagelsia. É essa sensação de ser uma mera espectadora na vida dos outros, é isso que mata. É saber que, por mais que a gente tente se fazer presente, não há nada como estar realmente do lado. Mas a vida segue e nos leva por caminhos e lugares que a gente jamais imaginou. E que bom que a vida inventou o skype, whatsapp e demais redes sociais. E que bom que há fotos e vídeos para matar a saudade do jeito que dá. E que bom que há saudade. Afinal, onde há saudade, há amor.  
Por dias assim, todos os dias...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Bed of roses.

Semaninha intensa por aqui. O pequeno não dorme direito há 4 noites. Ele acorda no meio da madrugada chorando, sem motivo aparente e acalma logo que pego ele no colo. Mas ai de mim se eu me inclinar com a intenção de devolvê-lo ao berço. Volta a chorar no mesmo momento. E aí eu preciso ficar ninando ele até que ele adormeça profundamente e não sinta essa transição dos meus braços para a cama dele. Em duas dessas noites eu estava cansada demais para esse ritual, então resolvi da maneira mais simples e cômoda: levei ele para a nossa cama. Ele dorme com um anjo quando dorme do nosso lado. Um anjinho espaçoso que se mexe pra caramba e toma conta da cama inteira. Mas, ainda assim, um anjinho.
Tá aí mais uma das coisas na qual eu mordi a língua: levar o bebê para a minha cama. Antes do pequeno nascer, eu era super contra a ideia da cama compartilhada. Achava esquisito e nada prático. Silly me. Logo na primeira noite do pequeno em casa, ele dormiu no próprio berço. E lá ficava até despertar. Daí, certo dia, o pequeno acordou cedo como sempre, mamou como sempre, e voltou a dormir mais um pouquinho como sempre. Só que nesse dia, não me lembro porque, eu levei ele comigo para cama para tirarmos essa sonequinha matinal juntos. Eu gostei tanto daquele nosso momento, que ele passou a se repetir quase diariamente. Depois disso, vieram madrugadas extenuantes amamentando. Pequeno passou a dormir bem logo no início da vida dele. Mas, do segundo para o terceiro mês ele passou a acordar várias vezes por noite querendo mamar. Nós estávamos de férias, ele dormia no quarto com a gente mas no seu bercinho portátil. E nessa época ele passava horas no peito. O pequeno nunca teve pressa ao mamar. Ficava no mínimo 1 hora para mais. Imagina ficar esse tempo acordada de madrugada com ele no colo esperando para devolvê-lo ao berço?!? Rapidinho eu passei a colocar ele deitadinho do meu lado, mamando confortavelmente. Não foram poucas as vezes que eu acordei duas ou três horas depois com ele ainda ali, grudado no peito. Eu dormia, descansava. E ele mamava da melhor maneira que ele poderia imaginar.
Pouco depois ele aprendeu a mamar em pouco tempo e voltou a ter noites boas. E nós deixamos de lado nossas madrugadas 'de conchinha'. Família feliz, dormindo bem, e eis que surgem os primeiros dentinhos. Lá se foram as madrugadas de calmaria.. De novo, quando o cansaço era maior do que tudo, lá ía o pequeno pra nossa cama. Aliás, lá vem o pequeno para a nossa cama. Adotamos essa postura desde então. Quando as noites são mais difíceis e ele precisa do nosso aconchego, ele vem sem cerimônia dormir com a gente. 
Hoje cedo, no grupo de whatsapp de mães que eu faço parte, enviaram uma mensagem pedindo ajuda, de uma bebê que sempre dormiu bem no próprio berço mas, nas últimas semanas, passou a acordar direto de madrugada e a mãe tem levado para a cama com ela mas está com medo de botar a perder todo o tempo de costume no bercinho. Eu já me senti exatamente assim, medo de mal acostumar o pequeno. Fui vencida pelo cansaço. Aliás, muito obrigada Sr. Cansaço. Sem você nós jamais teríamos vivido esses momentos deliciosos. Por mais que eu goste de ter mais espaço na minha cama, confesso que adoro deitar com o pequeno agarradinho em mim. E só posso imaginar o quanto ele deve se sentir protegido dormindo no meio de nós. Afinal de contas, eu também não gosto de dormir sozinha. Nós passamos boa parte da nossa vida procurando alguém com quem dividir as madrugadas, e nós esforçamos arduamente para que nossos pequenos não tenham esse mesmo prazer logo que chegam ao mundo. Ainda que eu continue não sendo adepta à cama compartilhada todos os dias, hoje eu entendo quem opta por fazer. E sei que não estarei fazendo mal nenhum ao pequeno se uma ou outra noite ele vier dormir com a gente. Mais do que não fazer mal, deve fazer um bem maior do que eu possa imaginar... 
    

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Do not sit on the stairs.

Tem uma série de coisas que eu achava sinceramente antes de ser mãe que eu não faria com o meu filho e acabei fazendo. O famoso "mordi a língua". Uma das coisas que eu tentei resistir ao máximo, foi a televisão. Lembro que no começo, eu chegava a chamar a atenção do respectivo se via ele com o pequeno no colo num ângulo em que ele tinha acesso à tela da televisão. Aos poucos, fui me desapegando disso. Mas depois que eu passei a liberar alguns momentos de televisão, descobri que eu não tinha muito com o que me preocupar. O pequeno nunca durou muito mais do que 5 minutos focado na TV. Logo ele se entedia e parte para outra coisa. Fico um pouco na dúvida se acho isso bom ou ruim. Por um lado, seria bom às vezes ter uma meia horinha dele sentado quietinho assistindo TV para organizar a casa ou fazer as minhas coisas. Mas por outro, gosto muito desse lado ativo dele. Se ele um dia acabar se tornando uma criança vidrada em televisão, que demore o máximo possível.
Mesmo sabendo dessa natureza dinâmica dele, às vezes eu me atrevo a desafiá-lo. A primeira vez que eu encarei o desafio de levá-lo num evento que exigia que ele ficasse sentado e quieto por cerca de uma hora e meia, ele tinha uns 10 meses. Levamos ele num show da Disney com vários quadros de música, dança, malabarismo e todos aqueles personagens fofos. Ele nos surpreendeu, ficou quientinho sentado no meu colo observando tudo atentamente. Só nos últimos 10 ou 15 minutos de espetáculo ele começou a se injuriar. Foi uma noite muito divertida! O teatro estava cheio de crianças fantasiadas de princesas, heróis e outros personagens dos filmes, e era lindo de ver todas elas interagindo com Mickey e companhia. Cheguei a pensar naquele dia que tinha enfim chegado o momento do pequeno curtir esse tipo de programa que requer atenção e corpo parado. Ledo engano...
Minha segunda aventura desse tipo com o pequeno, foi durante nossas férias de Setembro. Ele estava prestes a completar 1 ano, fazia um dia chuvoso e, presa num quarto pequeno de pousada sem muita opção do que fazer, eu decidi levá-lo ao cinema para assistir "O Pequeno Princípe". Ele ficou quietinho, sentado no meu colo, enquanto os trailers passavam... e pronto, acabou! Dali para frente foi um festival de seguir ele subindo e descendo as escadas do cinema que só terminou a meia hora do final do filme, quando ele enfim dormiu. Logo que ele levantou e demonstrou que não iria parar mais, eu pensei seriamente em me dar por derrotada e sair cabisbaixa do cinema. Mas eu olhei ao redor, vi que não chegava a ter 10 pessoas contando com nós dois, e decidi encarar. Engoli a vergonha do que os demais presentes provavelmente pensaram de mim e fiz do cinema a minha sala de estar. Afinal eu não conhecia ninguém lá mesmo, não iria rever nenhum deles nunca mais na vida, simbora ser feliz. Um olho na tela e um no pequeno, consegui ver o filme inteiro. Mas saí de lá prometendo a mim mesma que só levaria o pequeno num programa desses de novo daqui uns bons anos. Uma promessa que teve quase a mesma durabilidade de promessas de ano novo...
No final de semana que passou, levamos o pequeno no show de um grupo musical que ele adora. Eu estava otimista, afinal uma das únicas coisas que prende a atenção dele são as músicas desse grupo. Toda vez que eu coloco para tocar em casa, ele para o que está fazendo e fica remexendo o corpinho numa dancinha fofa em frente à tv. Imaginei que, como as demais crianças que lá estavam, ele não iria querer ficar sentado no colo parado, mas iria ficar prestando atenção nas músicas se requebrando - ou algo parecido com isso. Poor little me. Lá foi eu e o respectivo revezar na maratona de sobe e desce de novo. Não sei qual é a do pequeno com escadas, só sei que ele adora. É fissurado, para ser mais exata. Cheguei a ficar irritada com ele quando ele resistiu aos meus pedidos de ficar longe dos degraus, até me dar conta de que ele em nenhum momento me pediu para estar lá. Eu comprei os ingressos achando que ele iria gostar, mas ele não tinha obrigação nenhuma de querer participar comportado de um programa que ele não escolheu ir. Na verdade a obrigação era minha de saber que talvez ele não curtisse da maneira que eu esperava. E daí vinham as duas opções novamente: me dar por derrotada e ir embora, ou curtir do jeito que dava. Curtimos do jeito que deu até o final. E saí de lá fazendo uma nova promessa, dessa vez mais séria porque prometi para ele e não para mim mesma: te prometo, meu pequeno, aceitar essa tua natureza ativa. Se você não for do tipo que curte um cineminha ou um teatro, tudo bem, mamãe vai encontrar outras coisas que te agradem mais. Um passeio no parque, um dia de praia, um picnic ao ar livre. Por ora chega desses programinhas em lugares fechados que te exigem um certo grau de contenção. A não ser que tenha por aí uma exposição de escadas. Daí, meu amor, nós seremos os primeiros da fila.
Logo percebe-se que eu estava muito mais animada que o pequeno com o evento...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Throwback Thursday: moving out.

Na semana que passou, completou 1 ano da nossa mudança para a casa nova. Hoje posso dizer tranquilamente que essa foi uma das coisas mais hardcore que eu fiz na vida: organizar uma casa inteira com um pequeno de 2 meses nos braços. Aliás, não só isso. Organizar uma casa inteira com um pequeno nos braços em plena reforma. Quando nos mudamos, os armários dos quartos e cozinha nem estavam prontos ainda. O banheiro do piso térreo estava sendo reformado, o muro externo e o portão ainda não haviam finalizado. Lembro da infinidade de caixas que tomavam conta de todos os cômodos. Lembro da infinidade de pessoas que circulavam na casa. Lembro de ter que sair procurando meus cachorros pela rua enquando amamentava, porque sempre havia um infeliz que esquecia de fechar o portão. Lembro de passar boa parte do tempo no nosso quarto, refugiada. Lembro de me vestir do jeito que dava durante um tempo porque eu simplesmente não achava minhas roupas no meio daquela zona toda. Lembro da sujeira, de pensar que a minha casa nunca mais seria um lugar limpo. Lembro de estrannhar quando as obras finalmente finalizaram e eu me vi sozinha dentro da minha própria casa. Lembro do alívio que eu sentia com cada caixa esvaziada. Se você me perguntar, eu sinceramente não sei te dizer quando nós finalmente conseguimos organizar todas as nossas tranqueiras. Sei apenas que tudo foi feito muito aos poucos, o que foi quase uma tortura para uma pessoa levemente neurótica por organização. Quase com um leve grau de TOC, eu diria. Um ano inteiro depois e ainda não consigo dizer que a casa está pronta. Ainda falta um detalhe aqui, um quadro ali, uma luminária lá, um armário a ser consertado aqui e outro lá. Será que algum dia eu vou conseguir sentar, olhar ao redor e não pensar em nada que eu queira arrumar? I don´t think so. Mudar, rever, renovar é a melhor parte da natureza humana. E essa disponibilidade para mudanças custou muito a surgir em mim. Parte dela veio da vivência com o respectivo. Mas o grande 'boom' veio com o meu pequeno, no dia a dia da maternagem. E eu espero sinceramente que, por mais que eu continue mudando, essa nova parte de mim nunca mais mude...    



Postado aqui em 02.12.2014.

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"Escrevo diretamente do olho da tormenta. O caos instalou-se por aqui e não tem a menor pressa de ir embora. Há caixas para todos os lados, coisas jogadas em lugares temporários e uma infinidade de arrumações para fazer. Tivemos que mudar sem que a obra da parte interna tivesse sido finalizada. Paredes ainda estão sendo pintadas, armários ainda estão sendo montados. Eu e meu pequeno nos refugiamos num canto dessa zona toda, enquanto eu tento colocar ordem na casa durante as curtas sonecas dele."
O caos visualizado da minha cama, meu porto seguro no meio desse temporal. Acho digno mencionar que o nosso quarto é o cômodo atualmente mais organizado da casa.

Foi assim que comecei esse post, no início da semana passada. De lá para cá tive tanta coisa para dar conta que acabei me esquecendo dele. Boa parte das caixas já se foram, algumas coisas já estão guardadas nos seus lugares definitivos. Mas ainda há muito o que fazer. E há muita coisa pendente das obras. Só que nessa semana resolvi desacelerar. Em parte por pura preguiça. Mas em parte porque tive uma epifania: hoje fez um dia lindo, olhei para o quintal e fiquei imaginando os inúmeros futuros momentos deliciosos que passarei ali quando tudo estiver pronto. Foi quando me dei conta, what the hell?! Por que não agora?! Posso muito bem curtir minha casinha nova, mesmo no alto da sua zona. Ainda que haja uma bagunça generalizada por aí, há uns cantos bem aproveitáveis que anseiam por serem aproveitados. Eu tinha o sincero objetivo de deixar a casa pronta e arrumada até antes da nossa ida para o sul no final do ano. Desapeguei. O mínimo necessário para a nossa sobrevivência já foi desencaixotado e devidamente alocado. O resto, vou fazendo conforme a vontade. E foi por isso que, hoje, enquanto o sol caía, eu simplesmente sentei na varanda com o meu pequeno nos braços, de costas para a casa e todas as caixas que ela atualmente abriga, e fiquei sentindo o vento fresco que soprava levar embora toda a angústia que havia de querer ver a casa pronta para ontem. It's alright, you can afford to lose a day or two.. 
Quando o pequeno ainda se limitava a ficar nos nossos braços e o deck ainda não estava preparado para ele. Quando a preta ainda se jogava preguiçosa pelos cantos mais gostosos da casa.. (missing u like hell!)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Carta ao meu pequeno: sobre luto.

Querido pequeno, 
Você não sabe, mas está passando pelo seu primeiro luto. Nossa Pretinha se foi. Eu tentei te explicar isso da melhor maneira que eu pude, mas não sei se você entendeu. Verdade seja dita, não há como entender. Eu até agora não entendi. Talvez algum dia a gente entenda. Talvez algum dia, quando a dor amenizar, nós consigamos decifrar isso juntos. Por que será que aqueles que amamos se vão? Por que será que eles precisam ir naquele justo momento? Por que não podem esperar mais um pouco, mais alguns anos talvez? Não estávamos preparados para ver nossa Preta partir. Ela estava doente, é verdade. Mas estávamos tratando a doença dela e ela parecia estar se recuperando. Até a última semana, as mensagens que eu havia mandado para as suas tias e a sua nona estavam carregadas de otimismo, sobre uma Preta saudável, bem. A situação parecia estar sob controle. Mas a vida é frágil demais para admitir qualquer tipo de controle. E, depois de um dia maravilhoso, com direito a passeio na praia, ela partiu. Rápido e súbito assim. Nos deixando de mãos atadas, impotentes. Quando nós voltamos das férias e encontramos ela doentinha, eu fiquei arrasada. Passei dias afirmando a mim mesma que se estivéssemos por perto, poderíamos ter feito alguma coisa para reverter a situação. Dessa vez nós estávamos perto, e não houve nada que pudéssemos fazer. Quando a hora chega, não há nada que se possa fazer. A não ser estar ali, junto, amando até o último momento. E foi o que fizemos. Enquanto você dormia como um anjo, nós lutávamos junto com ela. A amparamos na dor e pedimos por favor para que ela resistisse. E ela resistiu, tanto quanto pode. Mas, por mais que implorássemos para ela não partir, a sua hora havia chegado. E o que ficou no seu lugar foi uma baita vazio. Algo que nada no mundo é capaz de preencher. Uma dor sem fim, uma saudade que sabemos que nunca irá passar. E a sensação de que nada foi suficiente. De que poderíamos ter lutado mais, abraçado mais, passeado mais, brincado mais. De que poderíamos ter passado mais tempo junto, de que 10 anos não bastaram para o tanto de tempo que gostaríamos de ter vivido com ela. Apenas uma coisa foi suficiente: o amor. Não havia como ela ter sido mais amada nessa vida. Tantas pessoas a amaram e a acolheram como filha que eu só posso me sentir honrada em fazer parte dessa lista. Ela foi amada do momento em que vimos pela primeira vez seu focinho preto até seu último suspiro. Esse é o único pensamento que acalma nosso coração nesse momento. E essa é a lição que fica com a partida da nossa Preta: que nós nos permitamos amar de corpo inteiro, de alma aberta, sem medo, sem ressalvas. Para que o dia que precisarmos enfrentar novamente uma despedida, nós tenhamos o coração em paz de que não faltou amor. A verdade, meu pequeno, é que a dor da perda nunca passa. Ameniza na medida em que é lavada pelas lágrimas. E quando se torna possível lembrar sem chorar, o que se tem são as memórias, as melhores, aquelas cheias de amor.
Carinhosamente, mamãe.

Com o coração ainda em pedaços, resolvi postar uma pequena homenagem a nossa Pretinha. Você estava sentado no meu colo, alheio ao que acontecia, de olho no celular que estava na minha mão. Quando a foto enfim carregou, a imagem da Preta tomou conta da tela. Imediatamente, você tirou a chupeta da boca e imitou o jeitinho que ela costumava respirar, arfando forte. Em meio às lágrimas, eu consegui sorrir

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Throwback Thursday - No Ninho, do blog Constance Zahn / Babies & Kids.

Eu e o respectivo não somos muito de tirar fotos nossas. Nós adoramos tirar fotos, ele até se empenhou em comprar um câmera semi-profissional, mas acabamos registrando muito mais os lugares que vamos do que nós mesmos. Tanto que sempre esquecemos de tirar fotos com pessoas queridas nossas em eventos importantes. Acho que o que nos incomoda é ficar posando para os clicks. Esse foi o motivo pelo qual decidimos não fazer aquelas sessões pré-casórios que os noivos costumam fazer. E fomos categóricos com os fotógrafos do evento: queremos fotos espontâneas, nada de fotos posadas. Mas, apesar desse nosso perfil, decidimos registrar com a ajuda de um profissional dois momentos pontuais da nossa vida: a gestação do pequeno e um dia em família na nossa casa com os nossos peludos. Acabamos nos divertindo bastante nessa última sessão. O pequeno ficou super à vontade com a fotógrafa e os peludos roubaram a cena. Foi tudo tão especial que acabou rendendo muito mais do que imaginávamos. A equipe do blog Constance Zahn viu nosso ensaio e acabou nos convidando para ser pauta de uma das colunas deles. E aí eu me vi entre a vontade de compartilhar com o mundo tudo sobre minhas experiências com o pequeno, e entre o meu casulo de vergonha que me acompanha uma vida inteira...


Postado aqui em 21.08.2015.

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Falem bem, falem mal, mas falem de mim. Tá aí uma máxima que não se aplica a minha pessoinha. Não sei se é fruto de uma criação com uma leve inclinação alemã, ou se é herança de uma adolescência inteira me sentindo ligeiramente deslocada. Mas a verdade é que eu não gosto de ser o centro das atenções. Aliás, não gosto é pouco. Sabe aquele pesadelo de se perceber nu diante de uma multidão? Poisentão. Quanto mais à francesa eu puder chegar e sair de um recinto, uma conversa, uma situação ou lugar, melhor! Só que sabe a vida, aquela traquinas? Então, ela sempre dá um jeito de te fazer confrontar aquilo que aperta o seu calo. Primeiro vieram a Daphne e o Tapioca, dois cachorros em forma de urso que fazem 90% das pessoas que passam por eles sorrirem e se sentirem super afim de bater um papo com a dona, ou seja, moi. Querer passar despercebida caminhando com eles em público é quase tão ilusório quanto acreditar que a Gisele Bündchen realmente usa Pantene. Depois dos peludos, veio a maternidade. Tal qual o sol há de se por todos os dias, eu te digo: barriga de grávida atrai gente ávida por conversar, dar dicas e conselhos, contar histórias e experiências, e por aí vai. E lá fui eu sendo arrancada do meu casulo mais uma vez. Ou mais muitas vezes, durante todos os nove meses de gestação. Mal sabia eu que bebê no colo é um imã muito mais forte que bebê dentro da barriga. E não bastasse isso, ainda fui dar à luz a um pequeno ser que abre o seu sorriso mais largo para qualquer estranho no elevador. Bye bye, invisible me.
Ser mãe é estar constantemente sob holofotes. É ter que lidar o tempo todo com gente quererendo saber os mínimos detalhes de como você cria o seu pequeno. Gente de perto, gente de longe. Gente da família, gente que te conhece desde sempre, gente que nunca te viu na vida, gente que nunca mais vai te ver. Gente do bem, gente que acrescenta, gente realmente interessada no que você tem a dizer. Gente mala, gente metida que gosta de dar pitaco até sobre o que não sabe, gente que critica tudo e mais um pouco. Às vezes eu penso que o ditado "ser mãe é padecer no paraíso" não tem necessariamente relação com o trabalho que dá criar um filho. Mas com o trabalho que dá ter que lidar com toda essa exposição social. Ainda mais para um ser antissocial como eu sempre fui. Mas e aí você me pergunta: p****, como uma pessoa que se diz tão reservada se propõe a escrever num blog, compartilhando coisas tão pessoais? Simples, eu gosto de pensar que ninguém lê. Quando ocasionalmente recebo um feedback, sinto um frio percorrendo a espinha, as pernas tremerem e um nó no estômago. Tenho um súbito impulso de sair relendo e revisando tudo que eu já escrevi e acabo chegando a conclusão de que eu não devia ter escrito nada porque tudo que eu já publiquei aqui é péssimo.
Mas, graças a Deus e ao pequeno, a maternidade vem me transformando. Muito, diga-se de passagem. E eu acabei descobrindo o prazer de dividir experiências. De dar a cara a tapa e falar de mim, falar do pequeno. Ainda que me julguem ou me critiquem pelas minhas escolhas. São minhas escolhas e eu ando tão feliz e satisfeitas com elas que tanto faz se elas não forem bem aceitas. Haters gonna hate. Hate. Hate. E, nesse processo de aprender a me abrir para o mundo, surgiu o convite para dar uma entrevista para o blog Constance Zahn | Babies & Kids. Eu me senti nas nuvens, acompanho o blog da Constance desde os tempos de planejamento do casório e jamais me imaginei material para pauta dele. Mas ao mesmo tempo engoli em seco: gente que eu não conheço lendo sobre mim?!?! A nova, metida e quase sociável Manu falou mais alto. Lhes apresento, então, um pouco mais de mim, um poucos mais do Arthur, da nossa maternagem.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Less than perfect.

Se tem uma coisa que eu gosto de fazer nessa vida é ler. Sempre gostei, desde muito pequena. E esse meu gosto por livros potencializou durante a gravidez. Tudo que me indicavam ou eu achava que era interessante eu fui atrás de ler. E confesso que isso acabou me atrapalhando um pouco quando me vi com o pequeno nos braços e precisei começar a colocar em prática tudo que li. Mas isso é assunto para um outro momento. Ainda quero falar sobre como tanta leitura atrapalhou o florescer do meu instinto materno, mas não agora. Agora eu quero apenas compartilhar um dos melhores textos que eu já li na vida. "A coragem de ser imperfeito" de Brené Brown. Eu fiquei sabendo desse livro na palestra 'Comunicação Não Violenta para Mães' apresentado pela Carolina Nalon num encontro de maternagem virtual que eu participei (excelente palestra e excelente pessoa by the way, me inscrevi na newsletter dela e venho adorando tudo que recebo!!). Ela citou esse livro no meio da palestra e só o título já me fascinou. Eu não tenho coragem de ser imperfeita. Errar e deixar que os outros percebam meu erro é uma das coisas que mais me deixam angustiada. Eu não preciso estar sempre certa, mas definitivamente eu não quero estar errada. A vergonha que sinto quando vejo um defeito ou erro meu exposto é um dos meus maiores pontos fracos, e um dos tópicos que ela mais aborda no livro. Aliás, o livro trata exatamente disso, de como se mostrar vulnerável, passível de erros e defeitos, aos outros é uma das coisas mais difíceis que existe. Mas uma das mais libertadoras.
O livro inteiro é excelente, mas tem um capítulo específico que me emocionou demais. Capítulo 7: "CRIANDO FILHOS PLENOS: OUSANDO SER O ADULTO QUE VOCÊ QUER QUE SEUS FILHOS SEJAM". Faça o que eu digo e não o que eu faço. Quantas pessoas não foram criadas assim? E quantas dessas pessoas não acabaram sendo um espelho perfeito das atitudes de seus pais ou daqueles que os criaram? Crianças são extremamente perpiscazes e notam incongruências entre palavras e ações. Elas estão sempre nos observando e imitam praticamente tudo que fazemos. Crianças aprendem por imitação. A primeira coisa que o pequeno fez quando pegou um celular na mão, foi encostar na orelha. Aliás, antes disso, o primeiro objeto que ele pegou que lembrava de longe um celular, ele encostou na orelha e desatou a 'falar'. Não precisa ser muito inteligente pra saber que ele só fez isso porque nos viu fazendo. E não precisa ser muito inteligente pra saber que de imitar um gesto simples a imitar uma atitude é um piscar de olhos. E esse capítulo é a tradução perfeita dessa relação de educação. Eu sinceramente gostaria de transcrevê-lo por inteiro aqui, mas não seria muito ético. Por isso vou destacar apenas alguns pontos que mais mexeram comigo, espero que seja o suficiente para despertar a vontade de ler o livro em outros mais...

"(...) Essa é a razão pela qual os pais são tão críticos uns com os outros – nós nos apegamos a um método ou abordagem e rapidamente o nosso jeito se torna o certo. Quando nos agarramos obsessivamente às nossas escolhas sobre educação e vemos alguém praticando outras formas, geralmente percebemos essa diferença como uma afronta ao modo como educamos nossos filhos. Criar filhos é um campo minado de vergonha e julgamento precisamente porque muitos pais têm dificuldade em lidar com a incerteza e a dúvida nessa área da vida. Enterrada em algum lugar profundo de nossas esperanças e nossos receios a respeito da maternidade e da paternidade está a verdade assustadora de que não existe perfeição na criação de filhos nem garantias."
(...)
 "Não há dúvida de que nosso comportamento, nossos pensamentos e nossos sentimentos estão tanto dentro de nós quanto são influenciados pelo ambiente. Mas quando se trata de sentimentos de amor, aceitação e valorização, somos estruturalmente moldados por nossa família de origem – pelo que escutamos, pelo que nos contam e, talvez o mais importante, pela maneira como vemos nossos pais se relacionarem com o mundo.
Como pais, podemos ter menos controle do que pensamos sobre o temperamento e a personalidade dos filhos e menos controle do que desejamos sobre a cultura da escassez. No entanto, temos oportunidades poderosas de educação em outras áreas: a maneira como ajudamos os filhos a entender, potencializar e aproveitar sua estrutura emocional e como lhes ensinamos a combater as insistentes mensagens da sociedade que dizem que eles nunca serão bons o bastante. Em se tratando de ensinar as crianças a viver com ousadia na sociedade da escassez, a questão não é tanto “Você está educando seus filhos da maneira certa?”, mas, sim, “Você é o adulto que deseja que seus filhos se tornem um dia?”.
Como escreveu Joseph Chilton Pearce: “O que somos ensina mais a uma criança do que o que dizemos, portanto precisamos ser o que queremos que nossos filhos se tornem.” Embora a vulnerabilidade da criação de filhos seja muitas vezes assustadora, não podemos nos armar contra ela nem colocá-la de lado, pois ela é o solo mais rico e mais fértil para ensinar e cultivar vínculos, significados e amor.
A vulnerabilidade está no centro da história familiar. Ela determina nossos momentos de maior alegria, medo, tristeza, vergonha, decepção, amor, aceitação, gratidão e criatividade. Quer estejamos segurando os filhos nos braços, caminhando ao lado deles, seguindo-os por toda parte ou gritando através de portas trancadas, a vulnerabilidade é o que molda quem nós somos e quem nossos filhos são.
"
(...)
"Na primeira vez que pedi a alunos do ensino fundamental que levantassem definições, um deles escreveu: “Não se sentir aceito no colégio é realmente difícil. Mas não é nada, comparado ao que sentimos quando não somos aceitos em casa.” Quando perguntei aos estudantes o que essa resposta significava, eles usaram os seguintes exemplos:
- Não atender às expectativas dos pais.
- Não ser tão descolado ou popular quanto seus pais gostariam que você fosse.
- Não ser tão inteligente quanto os pais.
- Não ser bom nas mesmas coisas que seus pais são ou foram.
- Deixar os pais envergonhados por não ter muitos amigos ou por não ser um
atleta.
- Seus pais não gostarem de quem você é e do que você gosta de fazer.
- Sentir que os pais não se importam com o que acontece em sua vida.
Se quisermos estimular a autovalorização em nossos filhos, precisamos fazer com que eles saibam que são aceitos pela família e que esse sentimento é incondicional. O que faz disso um grande desafio é que nós mesmos lutamos por essa sensação de aceitação – para saber que somos parte de alguma coisa, não apesar das nossas vulnerabilidades, mas por causa delas. Não podemos dar aos filhos o que não temos, o que significa que precisamos trabalhar para desenvolver uma percepção de aceitação junto com eles.
"
(...)
"Comprometimento exige o investimento de tempo e energia. Isso significa sentar com nossos filhos e tentar entender seus mundos, seus interesses e suas histórias. Pais engajados e plenos podem ser achados em ambos os lados do polêmico debate sobre a criação de filhos. Eles vêm de tradições e culturas diferentes e defendem valores distintos. O que têm em comum é colocarem em prática os seus valores e adotarem a seguinte postura: “Eu não sou perfeito e não estou sempre certo, mas estou aqui,aberto, prestando atenção, amando-o e estando completamente presente.”
(...)
"De acordo com Snyder, os filhos geralmente aprendem a esperança com seus pais. Para isso, as crianças necessitam de relacionamentos que sejam marcados por limites, consistência e apoio. Filhos com altos níveis de esperança tiveram experiências com a adversidade. Foi dada a eles a oportunidade de lutar, e, ao fazer isso, eles aprenderam a acreditar em si mesmos. Criar filhos que sejam esperançosos e que tenham a coragem de ser vulneráveis significa recuar da
superproteção e deixá-los experimentar a decepção, lidar com os conflitos, aprender a se impor e ter a oportunidade de falhar. Se estivermos sempre seguindo nossos filhos na arena da vida, calando as críticas e assegurando sua vitória, eles nunca aprenderão por conta própria que têm a capacidade de viver com ousadia.
"
(...)

E o capítulo termina lindamente num 'Manifesto pela criação de filhos plenos' escrito pela própria autora, citado aqui no seu inteiro teor:

"Escrevi este manifesto sobre criar filhos porque tive que fazê-lo. Steve e eu precisamos dele. Desprezar as comparações em uma sociedade que usa aquisições e conquistas para avaliar valor não é fácil. Uso esse manifesto como um barômetro, uma prece e uma meditação quando estou lidando com a vulnerabilidade ou quando sou assolada por medo de não ser boa o bastante em alguma coisa. Ele me faz recordar a descoberta que mudou e que, provavelmente, salvou minha vida: Quem somos e como nos relacionamos com o mundo são indicadores muito mais fortes de como nossos filhos se sairão na vida do que tudo que sabemos sobre criação de filhos."

Manifesto pela criação de filhos plenos

Acima de tudo, quero que você saiba que é amado e que tem capacidade de amar.
Você descobrirá isso por meio de minhas palavras e atitudes: as lições sobre o amor estão na maneira como eu o trato e como eu trato a mim mesmo.
Quero que você se relacione com o mundo a partir de um sentimento de dignidade e de autovalorização.
Você descobrirá que é digno de amor, aceitação e alegria todas as vezes que me vir praticando o amor-próprio e acolhendo minhas próprias imperfeições.
Nós praticaremos a coragem em nossa família ao nos mostrarmos, ao deixarmos que nos vejam e ao valorizarmos a vulnerabilidade. Compartilharemos nossas histórias de fracasso e de vitória. Em nosso lar sempre haverá espaço para ambas.
Nós lhe ensinaremos a compaixão exercendo-a primeiro com nós mesmos, e então uns com os outros. Colocaremos e respeitaremos limites; valorizaremos o esforço, a esperança e a perseverança. Descanso e brincadeiras serão valores de família, assim como práticas de família.
Você aprenderá sobre responsabilidade e respeito ao me ver cometer erros e consertá-los, e ao ver como peço o que preciso e falo sobre como me sinto.
Quero que você conheça a alegria, para que juntos pratiquemos a gratidão.
Quero que você sinta alegria, para que juntos aprendamos a ser vulneráveis.
Quando a incerteza e a escassez baterem à nossa porta, você será capaz de recorrer à ética que permeia nossa vida diária.
Juntos, choraremos e enfrentaremos o medo e a tristeza. Vou desejar livrá-lo de sua dor, mas em vez disso ficarei ao seu lado e lhe ensinarei como senti-la.
Nós vamos rir, cantar, dançar e criar juntos. Sempre teremos permissão para sermos nós mesmos um com o outro. Não importa o que aconteça, você sempre será aceito em nossa casa.
Quando iniciar sua jornada para ser uma pessoa plena, o maior presente que poderei dar a você é amar intensamente e viver com ousadia.
Não irei ensiná-lo, amá-lo nem lhe mostrar as coisas de forma perfeita, mas eu me deixarei ser visto por você e sempre considerarei sagrado o dom de poder vê-lo verdadeira e profundamente.

De tudo que eu li sobre criação de filhos, esse capítulo foi de longe um dos que mais me tocou (há um outro também, de encher os olhos de lágrimas, mas é de outro livro, fica para outro momento...). Vontade de imprimir cada página, colar na cabeceira da cama e ler todos os dias antes de dormir. Só me resta esperar que eu consiga abraçar a minha própria vulnerabilidade de tal forma que eu possibilite ao meu pequeno me conhecer por inteira, erros e acertos, defeitos e qualidades. E que eu saiba usar toda a coragem que a maternidade tem me trazido para que eu consiga de fato assumir minha imperfeição e ser o adulto que eu desejo que um dia o pequeno seja.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Throwback Thursday - Pieces of Me.

Muito antes de esse blog ganhar vida, eu já vinha ensaiando falar sobre maternidade no meu blog anterior. Escrevi alguns textos pelos quais eu tenho um carinho especial, que representam momentos de angústia ou felicidade sobre os quais eu senti a necessidade de compartilhar, mesmo sabendo que aquele não era o espaço mais apropriado para tanto. E, para não deixá-los cair no esquecimento de um espaço não mais usado, resolvi resgatá-los aqui...

Sobre aprender a se dividir enquanto o coração se multiplica.
Postado aqui em 19.06.2015.

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Passei o início dessa semana com o coração pesado, com uma tristeza inquietante, sem saber exatamente o porquê. Passei um bom tempo assim, até me dar conta o que tinha gerado tal angústia. Na segunda-feira, ao sair de casa para trabalhar, depois de um final de semana todo fora, vi meus cachorros parados no portão, um deles deitado com o focinho entre as grades, e um semblante de cortar o coração. Talvez estivessem imaginando que, como da última vez, essa minha saída de carro significaria mais alguns dias sozinhos em casa. Desde que voltei a trabalhar, me sinto culpada em relação a eles. Antes, passávamos o dia todo juntos, eu, eles e o pequeno. Tinha tempo de sobra para lhes dar atenção, e tinha o costume de levá-los para uma boa caminhada com o pequeno no sling. Não consigo me lembrar a última vez que os levei para passear.. Agora faço tudo às pressas, correndo para dar conta do pouco tempo que tenho disponível. Sinto que não consigo ser inteira em nada do que faço. Sou meia mãe, porque tenho que deixar meu pequeno todos os dias na creche e passamos maior parte das nossas horas separados. Sou meia eposa, porque poucos são os momentos que conseguimos ter somente para nós dois, sem preocupações ou qualquer coisa para resolver. Sou meia profissional, porque quando estou no trabalho meu coração e parte da minha mente está com o respectivo, com o pequeno, com os peludos. Sou meia eu mesma, não consigo mais me dedicar a cuidar de mim todo o tempo que eu gostaria. Mas acho que, quanto mais amores agregamos na nossa vida, mais temos que aprender a nos dividir. Eu nunca mais serei uma só, inteira, individual. Serei vários corações espalhados que se encontram ao final de um dia cansativo. Corações que se angustiam nas despedidas e que se enchem de alegria nos reencontros. Os melhores momentos do meu dia? Chegar na creche e ver o rosto do pequeno se iluminar ao encontrar meu olhar. Chegar em casa e ser recebida aos pulos e latidos eufóricos. Receber um beijo suave nos lábios e sentir o alívio de que ele voltou para casa bem. Nunca mais serei inteira, mas serei para sempre completa.
Um canto assim só para mim. Se bem que né, estaria levemente abandonado nos últimos meses..

Dog-friendly furniture.

Vi um quadro com esses dizeres uma vez no ebay. Fiquei e continuo desejando um para a minha casa.

This rug. These colors. This precious little moment.
 
Guide my way.

Lovely & colorful beauty space.

So true. And so sorry if you can´t stand it.

Um dia inteiro assim, só nós dois, nada para fazer. Artigo de luxo.

Escritório dos sonhos! Só que para abrigar os meus 3 nada pequenos peludos, aquele espaço para os cachorros teria que ocupar no mínimo a estante inteira..

Simplesmente porque eu invejo a saia de tutu dela, e o tempo de sobra para fuçar o armário..

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Teach me to love.

Pequeno entrou na fase de não querer ficar na creche. Nos últimos dias, toda vez que chegamos lá, ele envolve seus bracinhos no meu pescoço com toda força e choraminga ao menor sinal de que alguém irá tentar tirá-lo do meu colo. As tias vem animadas, sorrindo para ele, e ele vira a cara categoricamente. Eu fico lá, acalmando, distraindo, até conseguir deixar ele com alguma das cuidadoras sem que ele chore. Mostro para ele meu melhor sorriso e digo para ele ficar tranquilo, 'mamãe volta para te buscar no final do dia'. Por dentro, estou chorando junto. Ontem no final do dia, quando cheguei para buscá-lo, ele abriu o sorriso mais lindo do mundo e me estendeu os braços, como faz todo o dia. Só que logo que eu peguei no colo, vi que ele estava com a fralda suja e resolvi pedir para uma das cuidadoras trocar ele. No momento que ela pegou ele e começou a se afastar de mim, ele abriu um berreiro tão forte que eu me arrependi no ato de não ter eu mesma trocado. Com o coração em frangalhos, segui-os até o trocador e o acalmei, dizendo que eu não iria embora novamente, eu estava ali para levá-lo comigo. Aos poucos ele parou de chorar e começou a dar gargalhadas.
Na primeira vez que eu o deixei na creche, quando começamos a adaptação, ele foi para os braços da primeira tia que apareceu sem a menor cerimônia. Eu chorei durante meia hora assim que entrei no carro. De lá para cá, ele sempre ficou tranquilo, sempre se jogou no colo de quem quer que fosse encontrá-lo na porta. Alguma coisa mudou. Mas eu sinto que a mudança foi nele, não na creche ou nas pessoas que lá estão. De uns tempos para cá ele ficou muito mais apegado a mim. Tem momentos que nem o colo do respectivo resolve. Senti também que ele ficou muito mais carinhoso. Antes ele brincava mais sozinho, agora ele me procura para brincar com ele. Antes eu colocava ele sentado no meu colo para brincarmos juntos, agora ele senta no meu colo sem nem eu chamar. Até tira meus braços do caminho antes de sentar caso eu esteja com eles apoiados sobre as pernas (e eu infarto de tanto amor quando ele faz isso!!!). Agora ele estende a mão na minha direção não só para pedir colo, mas para pedir ajuda para descer algum degrau ou para me chamar para caminhar com ele. Se ele me vê deitada no sofá, imediatamente sorri e pede para deitar comigo, preferencialmente em cima de mim. Quando fica mais dengoso e eu o pego no colo, ele encosta a cabeça no meu ombro e passa aos mãozinhas pelo meu cabelo...
Uma das coisas que eu mais ansiei depois que o pequeno chegou na minha vida foi ver ele demonstrando carinho. No começo, era um esboço de um sorriso. Aos poucos foi se transformando nessa infinidade de gestos que fazem com que eu me apaixone por ele mais e mais a cada dia. Se por um lado me vejo tendo que lidar com uma situação difícil que antes não existia - ter que deixá-lo tristonho todos os dias na creche, saindo de fininho sem nem me despedir para ele não perceber e voltar a chorar - por outro lado me sinto a pessoa mais abençoada do mundo de poder presenciar o seu coraçãozinho se enchendo de amor. E cá entre nós, de todo o rol de habilidades que eles tem a aprender, tem coisa mais incrível e recompensadora do que ver de pertinho, dia a dia, o seu filho aprendendo a amar?!
Fonte: https://www.pinterest.com/pin/391813236304301880/

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Wondering.

No final do ano passado, alugamos uma casa de praia em Florianópolis para comemorar o Natal e Reveillon em família. Na época, o pequeno estava com apenas 2 meses e meio de vida. Era um pacotinho de gente, que sabia apenas mamar e dormir. E chorar. Nessa mesma época, meu sobrinho, nascido 6 meses antes do pequeno, já estava no auge dos seus ativos 8 meses, um sonho distante para mim. Lembro de observar a rotina da minha irmã com ele, dela preparando a comida dele, ele resmungando enquanto esperava, e ela o acalmando dizendo que logo logo estaria pronto. Aquilo para mim era inimaginável. Quando o pequeno estava com fome, ele apenas abria o berreiro e só parava quando sentia o leite na boca. Não adiantava eu tentar acalmá-lo dizendo que eu só precisava desabotoar a blusa e logo logo ele estaria mamando. Ele simplesmente não entendia. Lógico. Depois daqueles dias juntos, passei algum tempo imaginando como seria quando a fome não fosse mais um dos estopins de choro na vida do pequeno. Como seria quando se aproximasse a hora dele comer e ele não berrasse como se não se alimentasse há semanas. Hoje eu sei. De fato as coisas se tornaram muito mais tranquilas. Os choros diminuíram consideravelmente já que ele aprendeu a reconhecer quando a sua comida está a caminho.
Há muitas coisas que eu fico imaginando como serão quando enfim acontecerem. Como será que vai ser quando ele começar a falar e eu não precisar mais adivinhar o que ele está sentindo. Como será que vai ser quando eu não precisar mais ficar correndo atrás dele pelos lugares, e será que ele vai algum dia andar tranquilo explorando o mundo lado a lado comigo. Como será que vai ser quando ele aprender a manusear os talheres e pudermos comer juntos, sem que eu precise interromper a minha refeição para dar-lhe comida na boca. Quando ele entender que é hora de dormir e for para a cama sozinho, quando souber tomar banho sozinho, quando conseguir se concentrar em qualquer atividade por mais do que 5 minutos, quando eu disser que o amo e ele me responder de volta...
Neste final de semana o processo de aprendizagem de fala dele deu um salto. Ou um pulinho. Acho que para nós mães qualquer novidade é um grande acontecimento. Anyway. Até então o vocabulário do pequeno era composto por 'mama', 'papa', 'auau', 'alo', um ocasional 'oi' e muitas palavras que eu jamais saberei o significado. Só ele sabe, se é que sabe. Faz alguns meses já que ele começou a falar palavras de silábas simples e repetitivas. Passamos algum tempo até descobrir se ele fazia conexão entre as palavras 'papa' e 'mama' e o seus significados. Até que um dia, há uns 2 meses, ele viu o respectivo saindo do carro, imediatamente tirou a chupeta da boca e falou todo sorridente 'papa!'. Quase morremos de tanto amor vendo aquela cena. De lá para cá ele começou a falar 'mama' nos momentos mais dengosos, quando vem na minha direção com os bracinhos estendidos pedindo colo, aprendeu a falar 'alo' quando encosta o celular na orelha nos imitando, e fala 'auau' quando vê algum cachorro - o que é um tanto constante na vida dele já que temos três em casa. E aí, nesse sábado de manhã, ele me faz isso...
E foi dada à largada para o bichinho sair falando pelos cotovelos! E a mamãe babona aqui quase morre de vontade de esmagar...

Acho que vida de mãe é um eterno imaginar e esperar pela fase seguinte. Imaginar o próximo passo, com os olhos voltados para os passinhos atuais. É curtir cada descoberta e ansiar pelas próximas. Admirar apaixonada cada traço do seu rostinho e tentar visualizar como ele será daqui uns anos, mais alto, menos bochechudo, o sorriso cheio de dentes. É estar lá e cá, vivendo e devaneando. Desejando que o tempo congele, mas que se possa abrir uma janela para espiar o futuro. Ser mãe, essa eterna bipolaridade.  

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O encantador de cães, digo bebês.

Outubro foi um mês festivo lá em casa. A começar pelo aniversário do pequeno, um evento quase megalomaníaco com direito a reforma em toda a área externa da casa e muita correria na arrumação/organização da festa (mais sobre aqui). Seguindo no clima comemorativo, meu aniversário. Uma pequena jantinha em casa, para alguns amigos mais próximos (já que a família inteira mora longe). Pequena, mas muito celebrada. Aproveitei o momento para fazer algo que eu ansiava desde que havíamos nos mudado para a casa nova (e lá se vai quase um ano): jantar na varanda toda iluminada por luzinhas de pisca-pisca.

São Pedro não colaborou muito e mandou um climinha bem chuvoso. A ideia inicial era colocar a mesa na parte descoberta e pendurar as luzinhas nas árvores que ficam ao redor do deck. Mas tivemos que nos adaptar ao contratempo..
Na mesma semana do meu aniversário, o casamento de dois amigos muito queridos e festeiros. Era festa boa na certa. Respectivo até comentou em deixarmos o pequeno com os avós. Mas a festa era em outra cidade, no dia seguinte poderíamos aproveitar toda a (excelente) estrutura do hotel com os noivos e demais convidados, no fim não achamos justo privar o pequeno desse momento com a família. Já haviamos levado ele num outro casamento, mas na época ele tinha apenas 3 meses e dormiu praticamente o tempo inteiro. Easy peasy! Dessa vez seria diferente. Estávamos levando conosco um pequeno serelepe, inquieto, andante, curioso, e todos adjetivos mais que se possa pensar para definir um bebê que certamente iria querer mexer e andar por tudo. Dito e feito. O hotel onde foi a cerimônia e festa parecia uma fazenda, com direito a praia de água doce, piscina, laguinhos e muito, mas muuuito verde. Um prato cheio pro pequeno.
Entrada charmosinha.

Pequeno se esbaldou subindo e descendo as escadas.

Casarão onde ficam os quartos.

Minha paixão por decór falando alto: muito amor pelo colorido da casa e pelos móveis rústicos.

Verde, verde, verde!!!

Capelinha linda, linda, linda!! (a cerimônia foi à beira do lago, não aqui)

Interior da capela. Tanto amor por ela que deu vontade de casar de novo.
 
Cerimônia lindíssima ao pôr do sol ❤️
Mas nada que não conseguíssemos contornar. Como os noivos eram do ciclo de amizades do respectivo, me incumbi de supervisionar a atividade exploratória do nosso filhote para ele curtir o momento. Revezamos em alguns momentos para eu poder sentar um pouco (lá se foram os tempos que eu aguentava horas em cima de um salto) e comer. O desafio mesmo veio na hora de dormir. Um dos casais amigos nossos que estavam lá tem dois bebês e decidiram levar a babá para poder deixá-los dormindo tranquilamente no quarto enquanto aproveitavam a madrugada de festa. Nós tínhamos nos programado para deixar o pequeno no carrinho (que vira moisés), dormindo num canto mais silencioso da festa, tal qual no primeiro casamento que o levamos. Mas esse casal querido e abençoado nos ofereceu para levá-lo para o quarto deles. Pensa em duas pessoas felizes! Lá fomos nós com o pequeno sonolento, já passada a hora usual de dormir, imaginando que bastaria mamar para pegar no sono. Oh dó! Levamos aproximadamente 1 hora para fazê-lo dormir. Ele simplesmente não queria se entregar. Provavelmente estava agitado demais com o ambiente novo e a profusão de pessoas e sons que o cercava. E aqui eu faço um pausa no relato para explicar: desde que o pequeno nasceu, eu me vejo tendo que enfrentar um dos meus maiores defeitos, a impaciência. Eu pareço calma, mas consigo ficar irritada com uma facilidade que às vezes nem eu entendo. E, de todas as coisas que o pequeno pode fazer para me fazer perder os brios, duas me estressam mais: não querer comer e não querer dormir. Do primeiro mal eu sofro muito pouco, já que o pequeno é muito bom de boca. Já do segundo.. Pequeno costuma adormecer com facilidade, mas tem dias que ele luta bravamente. Alguns dias eu permaneço tranquila, serena, esperando pacientemente ele dormir. Mas alguns dias, principalmente naqueles que o cansaço toma conta de mim, eu acabo perdendo para a impaciência. E é aí que o respectivo entra para me socorrer. Nesse dia especificamente do casamento, eu simplesmente não conseguia aceitar que ele não caía no sono. Ele fechava os olhinhos, começava a relaxar o corpo, mas bastava um barulho ou movimento diferente que ele despertava. E aquilo foi tomando conta de mim. Quando eu já estava a ponto de desistir e levar ele de volta pra festa, respectivo pegou ele nos braços e em menos de 5 minutos ele estava adormecido...
No caminho de volta para festa, comentei chateada que não conseguia entender porque nesses dias de luta ele adormecia tão facilmente com o respetivo e não comigo. E foi aí que o respectivo falou uma das teorias que mais fez sentido desde que o pequeno nasceu: porque ele sente a minha irritação. Anos atrás, quando éramos apenas ele, eu e um cachorro recém-chegado na nossa vida, tínhamos o hábito de assistir o programa do Cesar Millan, o encantador de cães. Das dicas que ele dava, havia sempre uma que ele reforçava mais, que os cães sentem as nossas emoções. Que para acalmarmos um cão, nós precisamos nos acalmar primeiro. Eu sei que parece esdrúxulo comparar bebês a cães, mas no momento que o respectivo citou o madamento pricipal do Cesar, tudo fez sentido. Eu só não consigo fazer o pequeno adormecer quando eu estou cansada e irritada demais. Os dias que ele mais luta contra o sono, são os dias que eu estou menos paciente para fazê-lo dormir. E vice-versa.
Noite passada pequeno não queria dormir de jeito nenhum. Colocamos ele no berço, ele deitou, rolou, sentou, levantou, caminhou, falou sozinho, riu, jogou travesseiro/coberta/cheirinho/tudo para fora do berço. Fez a maior farra. Tentei fazê-lo deitar, fazer um carinho e acalmá-lo. Nada. Sentei tranquila na poltrona que fica ao lado do berço. Deixei ele se cansar por alguns minutos. Comecei a perceber que a euforia foi diminuindo aos poucos, ouvia apenas o barulho dele rolando no colchão. Levantei, deitei-o no travesseiro e fiquei ali do seu lado, afagando seu cabelo. Em pouco tempo ele havia adormecido. They say 'happy wife, happy life', I say 'happy mom, happy son'! 
Pequeno todo lindo e charmoso de gravata e tudo no casório!
 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Intro.

Certo dia, numa conversa de bar, um casal de amigos comentou comigo e com o respectivo que gostava de conversar com a gente sobre filhos, porque gostavam de ouvir nossas experiências e opiniões sinceras. Há pouco mais de um ano, nosso pequeno chegou ao mundo. Eu e o respectivo havíamos comemorado nosso primeiro ano de casamento há apenas 6 meses, mas estavámos desejando ansiosos a chegada dele. Nos sentíamos prontos para nos tornar pais, para aumentar nossa pequena família, até então formada por nós dois e dois cachorros. Mal sabíamos o que nos esperava. Principalmente eu. Hoje, 1 ano e alguns dias depois da chegada dele, olho para trás e sinto vontade de rir. Rir das certezas que vi cair por terra, das teorias que tentei tão inutilmente aplicar, das dúvidas, dos medos, do caos que se instalou na minha vida. Rio de mim mesma, um riso leve, aliviado, por saber que eu consegui sobreviver ao - ou melhor, vivi intensamente cada segundo do - primeiro ano de vida do meu pequeno. Rio ao pensar em toda a transformação pela qual passei, e rio ainda mais alto ao me dar conta de que hoje eu sou uma pessoa melhor.
Houve um tempo em que eu me dediquei a escrever sobre decoração. Sou apaixonada por isso. Por lares pensados e arrumados com carinho, por ambientes de encher os olhos, por cantos coloridos e aconchegantes. Mas aí o pequeno chegou na minha vida e eu não consegui me dedicar a mais nada que não fosse ele. E junto com ele, veio a necessidade de escrever, falar sobre a maternidade, sobre as coisas que ninguém me falou e eu senti e vivi mesmo assim. Experiências e opiniões sinceras.
A paixão por decoração da casa continua aqui, temporariamente arquivada, mas não esquecida. De vez em quando consigo exercer um pouco dela. Mas acontece que eu descobri uma paixão que ainda não conhecia: a paixão por ser mãe. Amo o universo materno, amo estudar, tentar compreender e conquistar com o pequeno cada fase pela qual ele passa. Duas partes de mim que andam unidas, cada uma dando espaço a outra sempre que possível. Do lar à maternidade. Que ambos sejam doces!..