sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Fast food.

Tive um pequeno surto de exaustão essa semana. Chorei até arder os olhos, discuti com o respectivo, fiz fiasco. Não, não foi nada que o pequeno fez. Foi a rotina louca que eu cumpro todo dia em função do meu trabalho. Explico: eu sou servidora pública federal e isso sempre me deu a oportunidade de seguir o respectivo onde quer que ele fosse, desde que ele se mantivesse dentro do território nacional. Quando resolvemos sair de São Paulo para nos enfiar no interior do Rio de Janeiro, nós tínhamos em mente a minha transferência para a mesma cidade onde nós moramos. Só que eu não consegui essa transferência. O que me deixou com duas opções: voltar para São Paulo com um pequeno nos braços e ficar nós dois longe do respectivo, ou pedir transferência para a cidade mais próxima, no caso distante 50km da nossa casa. Como a primeira opção era inpensável para nós, ficamos com a segunda. E, com isso, eu enfrento todo dia um deslocamento de 100km que me consome muito tempo. Levo diariamente 4 horas entre sair de casa, deixar o pequeno na creche, ir trabalhar, voltar do trabalho, pegar o pequeno na creche e chegar em casa. Tempo este extremamente precioso que eu poderia estar fazendo mil outras coisas: fazendo alguma aula com o pequeno, seja natação, música, ou sei lá o que; fazendo algum exercício para cuidar de mim; passando mais tempo em casa com o meu filhote; ou simplesmente dormindo uma horinha ou duas a mais pela manhã já que eu não precisaria madrugar para chegar em tempo ao trabalho.
A maioria dos dias são tranquilos e eu levo numa boa esse desperdício de tempo todo. Mas alguns dias são um pouco cruéis. Dias que eu preciso correr mais do que o normal para fazer alguma coisa trivial que só funcione em horário comercial, dias que o trânsito não colabora e eu perco mais do que "só" 4 horas, dias que eu me olho no espelho e sinto falta da época que eu tinha todo tempo do mundo para cuidar do meu corpo... Para aliviar essa pressão de um dia a dia extremamente corrido, eu tento facilitar nossa rotina onde dá. E um desses pontos que eu me vi obrigada a organizar para não se tornar mais um momento de stress da rotina, foi a alimentação do pequeno. Como saímos muito cedo de casa e voltamos no início da noite, o pequeno acaba fazendo todas as suas refeições diárias na creche, com exceção da janta. Essa fica por nossa conta. E como cozinhar todo dia pode ser extremamente cansativo depois de um dia inteiro para lá e para cá, tive que bolar maneiras de não tornar isso um tormento. A primeira saída: o bom e velho congelamento. Logo que o pequeno começou a sua introdução alimentar, minha mãe veio passar um feriado conosco e fizemos um mutirão na cozinha: deixamos prontos tudo quanto era tipo de legumes, carnes, arroz, feijão, etc., dividimos em pequenas porções (usamos copinhos de café descartáveis e formas de gelo) e congelamos tudo. Todo dia à noite, bastava escolher uma porção de cada tipo de nutriente, colocar uns minutinhos no microondas e voilá! Desde então, cozinhar em grandes quantidades para congelar se tornou um hábito, e eu aproveito os finais de semana que ficamos em casa para reabastecer o estoque do freezer.
Uma outra saída que eu tive e que me ajuda não só na rotina diária, mas até nos finais de semana que estou meio sem saco para o fogão: receitinhas rápidas e fáceis. De todas as que eu já usei, três se tornaram as minhas favoritas e que eu divido aqui:

Bolinho rápido de banana:
- 2 bananas amassadas
- 1 colher (sopa) de farinha de coco
- 1 colher (sopa) de aveia em flocos
- 1 colher (chá) de canela em pó
- 1/2 colher (chá) de fermento em pó
Misture todos os ingredientes e coloque a massa em forminhas untadas (eu uso uma forma de silicone para cupcakes, o tamanho fica perfeito para uma porção individual). Coloque por dois minutos no microondas ou 15 minutos no forno quente. (eu costumo usar o microondas, o bolinho fica mais molhadinho. Mas eu coloco mais do que 2 minutos, vou colocando de 1 em 1 e testando a consistência até o bolinho ficar mais firme).
* créditos para a minha irmã que me passou essa receita que tantas vezes já salvou meu dia. Já fiz várias versões desse bolinho, já fiz usando batata doce, abobrinha, batata baroa, legumes sortidos. Dá para trocar a farinha de coco por farinha de arroz, farinha de banana, integral, etc. Esse bolinho é excelente para refeições fora de casa, é prático, não requer talheres, os pequenos que comem com as próprias mãos se acabam nesse bolinho, ou dá para ir despedaçando com os dedos e ir dando na boca. Levei esse bolinho num evento que fomos quando o pequeno era mais novo e que coincidia com a hora da janta dele, resolveu nosso problema. Levo também quando fazemos alguma viagem mais longa de carro e ele pode sentir fome na estrada. 

Danone caseiro:
- 1 inhame médio
- duas caixas de morango
- 1 banana
- mel ou açucar masvaco para adoçar se necessário
Cozinhar o inhame até ficar molinho. Bater no liquidificador junto com as frutas até ficar cremoso (pode-se usar um pouco da água do cozimento no inhame para facilitar a mistura)
* Essas quantidades podem ser alteradas conforme o gosto. A primeira vez que eu fiz a receita, dizia que era pra usar 3 inhames e 3 caixas de morango. Eu achei que ficou com muito gosto de inhame. Alguns testes depois, cheguei à conclusão que o ideal (para o meu paladar pelo menos) é duas caixas de morango para cada inhame. A banana surgiu depois. Nas primeiras vezes eu usei apenas morango e inhame e acabava tendo que adoçar. Aí me sugeriram adicionar a banana e eu adorei! A consistência fica mais cremosa e fica mais doce, nem tenho mais usado o mel/mascavo para adoçar. Costumo fazer em grande quantidade e congelar em copos descartáveis de 300 ml. Pequeno adora! E é ótimo para o café da manhã, lanche da tarde ou mesmo sobremesa.

Ovos mexidos:
- 1 ovo
- tomate picado
- cenoura ralada
- 2 colheres (de chá) de linhaça dourada
- 2 colheres (de chá) de chia
- sal a gosto
Misture todos os ingredientes num recipiente. Coloque um fio de azeite para esquentar numa frigideira e despeje a mistura mexendo até cozinhar a gema.
* Essa é criação minha. Num dia meio sem tempo (conta uma novidade!) e sem muita coisa em casa, resolvi fazer ovos mexidos para o pequeno deixando-o o mais saudável possível, por isso os grãos na receita. Às vezes eu coloco queijo minas frescal também, brocólis, enfim, dá para inventar muito. Não só o pequeno adora como eu também! Excelente opção para momentos sem tempo e sem criatividade para cozinhar.

Lembro nitidamente de uma mensagem que eu mandei para a minha irmã logo que o pequeno passou pela fase inicial da introdução alimentar, onde os legumes e outros são dados simplesmente cozidos, sem misturas, e começou a comer refeições de verdade. Na mensagem eu reclamava que agora minha vida estava ficando mais difícil, pois eu precisava inventar refeições saudáveis e equilibradas diariamente para o pequeno. E a resposta dela não poderia ser melhor. Não lembro com exatidão as palavras (e daria um trabalho do cão procurar uma mensagem de 6/7 meses atrás), mas era algo nesse sentido: "Sim, a nossa vida fica mais difícil. Mas a vida deles fica muito mais saborosa!"
Algo que eu sonhava fazer desde que nos mudamos: um picnic no quintal com direito à decoração e tudo. No menu: melancia e melão cortados em forma de tulipas, a última leva de pãozinho de batata doce feito pela Nona Oli que ficaram congelados desde que ela esteve aqui no aniversário dele (precisamos de você aqui de novo, vovó!!), e bolinho integral de lamber os beiçõs com castanhas, uva passa, ameixas e vários tipos de grãos (também obra da Nona, também a última leva.. ;///)   

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

All eyes on me.

Final de ano foi um tanto quanto tumultuado. Um Natal para ser esquecido – como eu acabei nomeando – mas sobre o qual eu pretendo escrever em outro momento. 2016 chegou e eu mal senti. Lá se vai quase um mês dos fogos e do estouro do champagne, e eu totalmente ausente por aqui. Venho querendo sentar para escrever, mas não conseguia sair da inércia por nada. Aí esses dias eu tive o empurrão que eu precisava. De todas as coisas que me inspiram, situações de tensão estão no topo do ranking. Toda vez que eu vivo um momento desse tipo, fico ruminando dentro de mim cada coisa que eu devia ter feito ou falado naquela hora, mas não consegui em função do nervosismo. Ou algo que não fiz porque não seria educado, mas que teria sido libertador se eu tivesse culhões para mandar a política da boa vizinhança passear. E aí escrever vira o meu escape, a minha forma de desabafo, uma maneira de repensar e reler o que aconteceu, e quem sabe descobrir se havia algo que eu poderia ter feito diferente.
Respectivo esteve de aniversário essa semana (congrats again, my love). Como não poderia deixar de ser, planejamos uma festinha em casa com alguns amigos para celebrar seus 32 anos de vida. E na noite anterior combinamos de ir ao mercado comprar as coisas. Saí do trabalho, busquei o pequeno na creche e lá a epopeia teve início. Pequeno estava sentado brincando na salinha que fica logo na entrada na creche, lugar que costuma estar todo dia quando vou buscá-lo. Geralmente ele me vê, abre o sorriso mais lindo e rasgado do mundo e vem correndo. Nesse dia em especial, ele estava compenetrado brincando. Com um pote e uma colher na mão, fingia comer com direito a mastigar uma refeição invisível. Coisa mais fofa. Ele me viu, não esboçou nenhuma reação e voltou para a sua colher. Depois de uns cinco minutos ali parada, convidei ele para ir embora. Nada. Repeti o convite várias vezes. E ele várias vezes nada para mim. Já era tarde, restava apenas ele e outro pequeno na creche, e nós precisávamos ir embora. Resolvi entrar sutilmente no espaço dele, pegá-lo no colo para enfim ir embora. No mesmo momento a choradeira começou. Expliquei para um pequeno aos prantos se debatendo no meu colo que era hora de ir, mas que ele podia pedir emprestada a colher e o potinho para a tia da creche. Ela gentilmente me entregou e ele se acalmou. Saímos tranquilos a caminho do mercado. Chegando lá, coloquei-o no carrinho de compras com assento para bebês e fui aos afazeres. No momento em que chegamos no setor de hortifruti, meu inferno pessoal começou. Ele viu os cachos de bananas pendurados, soltou um “ba” e ficou apontando até eu lhe entregar uma. Só que ele não queria simplesmente segurar, ele queria comer. Para isso, eu precisava pelo menos pesá-la. E lá fomos nós aos berros até a balança pesar as bananas para que eu pudesse enfim entregar-lhe e satisfazer seu desejo. A choradeira foi tal a ponto do funcionário que pesava as frutas comentar “esse tem vontade, hein?!”. Banana entregue, de volta à calmaria. Que só durou o tempo que a boca dele esteve ocupada com a dita cuja. Dali para frente, todo o trajeto – colocar as compras no carrinho, depois na esteira do caixa, empacotar, colocar de volta no carrinho, sair do mercado – foi feito sob protestos dele. Alternando entre choramingar baixinho, ficar quieto por brevíssimos momentos e chorar alto usando toda a capacidade dos seus pequenos pulmões. E assim eu posso resumir os poucos mais de 60 minutos – os quais na verdade pareceram durar uma enternidade – que eu passei no mercado: empurrando no carrinho uma choradeira ambulante sob um mundo de olhos julgadores.
A você que estava naquela noite naquele mercado e presenciou essa minha breve tragédia: minhas sinceras desculpas. Eu não queria que meu filho estivesse chorando. Acredite, se o choro dele estava incomodando você, estava me incomodando mil vezes mais. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Ele não estava sendo maltratado, torturado, passando fome ou algo do gênero. Ele simplesmente estava frustrado porque ele não queria estar lá. Ele queria estar sentadinho na creche brincando de comer, de onde eu não deveria sequer ter tirado ele para início de conversa. Ele foi privado sem aviso prévio do seu momento de diversão para me acompanhar numa tarefa que nem eu gosto de fazer. Meu pequeno é ativo, gosta de andar, correr, explorar. Se tem uma coisa que ele não gosta é de ficar sentado quietinho. Aliás, raras são as vezes que eu vejo ele assim, sentado quietinho. Mas entenda, se eu tivesse feito a vontade dele, tirado ele do carrinho e deixado ele correr pelos corredores do mercado, eu teria levado no mínimo dez vezes mais tempo para terminar as compras. Só que eu tinha um horário para cumprir e por isso tive que deixar meu filho frustrado. Tudo que eu pude fazer foi tentar distrai-lo com o que havia disponível no momento e, quando mais nada funcionou, respirar fundo, encontrar a minha paz interior e aceitar a situação sem perder a calma.
A você que me olhou torto, ao senhor que estendeu a mão fazendo gracinhas pro meu pequeno falando “que bebêzinho mais chorão”, ao moço da balança que foi contundente ao enfatizar o temperamento do meu pequeno, ao caixa e à empacotadora que fingiram não estar rindo no único momento que eu consegui levantar os olhos para pagar a conta, eu tenho apenas um pedido: na próxima vez que isso acontecer, façam o seu melhor esforço para ignorar aquele bebê choroso. Seja ele o meu pequeno ou qualquer outro. Eu posso seguramente lhe garantir, seja qual mãe que for, ela estará se sentindo péssima com aquela situação. Ela estará querendo se enfiar num buraco e sumir, ou querendo chorar junto com a sua cria, ou respirando até os confins do seu pulmão para ter a paciência que aquele momento exige. E o seu comentário ou a sua brincadeirinha provavelmente não vão ajudar em nada, muito menos fazer o bebê parar de chorar. O que nós precisamos, e que vai de fato nos ajudar a enfrentar a pressão daquele momento difícil, é do seu poder de abstração. Finja que não nos viu, olhe para o outro lado e continue com a sua vida. Tente não transparecer no seu rosto o seu pensamento reprovador de que seus filhos não eram, não são ou não serão assim. Eu não sou você, e meu filho não é o seu. Acredite, bebês choram e 99,99% das mães e pais estão fazendo seu melhor para que isso não aconteça ou, para quando acontecer, que pare o quanto antes.
Ao meu pequeno, minhas sinceras desculpas. Eu teria te deixado brincando se eu pudesse, mas a gente nem sempre pode fazer o que quer. Nem sempre os momentos são feitos de brincadeiras e diversão. Muitas vezes você terá que enfrentar a frustração de estar em algum lugar que você não gostaria de estar ou fazendo algo que você não gostaria de fazer. Eu estarei ao seu lado sempre que eu puder amenizando o que eu puder, mas não poderei te livrar totalmente dessas situações. Faz parte da vida. E se a sua saída hoje e pelos próximos meses (quero acreditar otimista que serão apenas meses e não anos..) é chorar, te prometo fazer o meu melhor para ignorar o mundo, ignorar olhares acusadores e o sentimento de vergonha que estará tomando conta de mim e me concentrar apenas em você. Te prometo fazer o meu melhor para respirar fundo e acolher a tua frustração sem perder a calma.
Às mães e bebês para quem um dia eu olhei torto, eu sinto muito. Hoje eu entendo o quanto eu fui indelicada. E às outras mães que se pegam tendo que lidar publicamente com um bebê choroso, prometo que farei meu melhor esforço para seguir meu caminho e cuidar da minha própria vida, enquanto internamente te ergo minha mão em high five dizendo “Tamo junto!”.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/410038741047364266/