segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Carta ao meu pequeno: sobre luto.

Querido pequeno, 
Você não sabe, mas está passando pelo seu primeiro luto. Nossa Pretinha se foi. Eu tentei te explicar isso da melhor maneira que eu pude, mas não sei se você entendeu. Verdade seja dita, não há como entender. Eu até agora não entendi. Talvez algum dia a gente entenda. Talvez algum dia, quando a dor amenizar, nós consigamos decifrar isso juntos. Por que será que aqueles que amamos se vão? Por que será que eles precisam ir naquele justo momento? Por que não podem esperar mais um pouco, mais alguns anos talvez? Não estávamos preparados para ver nossa Preta partir. Ela estava doente, é verdade. Mas estávamos tratando a doença dela e ela parecia estar se recuperando. Até a última semana, as mensagens que eu havia mandado para as suas tias e a sua nona estavam carregadas de otimismo, sobre uma Preta saudável, bem. A situação parecia estar sob controle. Mas a vida é frágil demais para admitir qualquer tipo de controle. E, depois de um dia maravilhoso, com direito a passeio na praia, ela partiu. Rápido e súbito assim. Nos deixando de mãos atadas, impotentes. Quando nós voltamos das férias e encontramos ela doentinha, eu fiquei arrasada. Passei dias afirmando a mim mesma que se estivéssemos por perto, poderíamos ter feito alguma coisa para reverter a situação. Dessa vez nós estávamos perto, e não houve nada que pudéssemos fazer. Quando a hora chega, não há nada que se possa fazer. A não ser estar ali, junto, amando até o último momento. E foi o que fizemos. Enquanto você dormia como um anjo, nós lutávamos junto com ela. A amparamos na dor e pedimos por favor para que ela resistisse. E ela resistiu, tanto quanto pode. Mas, por mais que implorássemos para ela não partir, a sua hora havia chegado. E o que ficou no seu lugar foi uma baita vazio. Algo que nada no mundo é capaz de preencher. Uma dor sem fim, uma saudade que sabemos que nunca irá passar. E a sensação de que nada foi suficiente. De que poderíamos ter lutado mais, abraçado mais, passeado mais, brincado mais. De que poderíamos ter passado mais tempo junto, de que 10 anos não bastaram para o tanto de tempo que gostaríamos de ter vivido com ela. Apenas uma coisa foi suficiente: o amor. Não havia como ela ter sido mais amada nessa vida. Tantas pessoas a amaram e a acolheram como filha que eu só posso me sentir honrada em fazer parte dessa lista. Ela foi amada do momento em que vimos pela primeira vez seu focinho preto até seu último suspiro. Esse é o único pensamento que acalma nosso coração nesse momento. E essa é a lição que fica com a partida da nossa Preta: que nós nos permitamos amar de corpo inteiro, de alma aberta, sem medo, sem ressalvas. Para que o dia que precisarmos enfrentar novamente uma despedida, nós tenhamos o coração em paz de que não faltou amor. A verdade, meu pequeno, é que a dor da perda nunca passa. Ameniza na medida em que é lavada pelas lágrimas. E quando se torna possível lembrar sem chorar, o que se tem são as memórias, as melhores, aquelas cheias de amor.
Carinhosamente, mamãe.

Com o coração ainda em pedaços, resolvi postar uma pequena homenagem a nossa Pretinha. Você estava sentado no meu colo, alheio ao que acontecia, de olho no celular que estava na minha mão. Quando a foto enfim carregou, a imagem da Preta tomou conta da tela. Imediatamente, você tirou a chupeta da boca e imitou o jeitinho que ela costumava respirar, arfando forte. Em meio às lágrimas, eu consegui sorrir

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