quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Carta ao meu pequeno: Feliz Aniversário de 3 anos!

Querido pequeno,
Hoje é o seu terceiro aniversário. Mas hoje, diferente dos outros dois anos, não haverá festa. Não porque não há o que comemorar. Há sim, meu amor, muito o que comemorar deste seu terceiro ano de vida. Sabe, eu sempre achei que você teria uma vida grandiosa, mas jamais poderia ter imaginado o tamanho dessa grandiosidade. Às vezes eu me pego pensando naqueles minutos em que o seu coração deixou de bater. Fico imaginando como deve ter sido quando você chegou no céu e olhou nos olhos de Deus. Não sei quem deve ter dado um sorriso maior, você ou Ele. Nos dias em que vivemos a angústia de não saber se você resistiria ao acidente, eu rezava para que você ficasse conosco. Mas eu sabia que aquele era um pedido egoísta. Não havia nada que eu pudesse oferecer que fosse melhor ou minimamente parecido com o que você teria no céu. Eu imaginava você no colo de Nossa Senhora e confesso que meu coração até se ressentia, pois eu sabia que meu colo jamais seria tão bom quanto o Dela. Não há no mundo, meu pequeno, colo tão amoroso e tão tenro quanto o da Nossa Mãezinha do céu. E quantas outras pessoas tão queridas você teria encontrado por lá?! Fico pensando que talvez você tenha conseguido conhecer a sua bisa, minha nona, e que você tenha tido a benção que nós não tivemos de conhecer os seus priminhos. Quem sabe, se você tivesse dado bastante sorte, você poderia até mesmo ter ganhado umas lambidas da nossa pretinha. Já me peguei também tantas vezes imaginando como deve ter sido quando Deus lhe revelou o plano que Ele tinha para a sua vida. Imagino o medo que você deve ter sentido quando soube que teria que viver tantas dores. Mas tenho certeza que o olhar compassivo Dele deve ter te acalmado de imediato e que Ele prontamente tenha te assegurado que você nunca estaria sozinho. Ele estaria em todos os momentos contigo, te carregando em Seus braços. Ou, talvez, Ele não tenha te falado nada, mas apenas te perguntado se você desejaria permanecer ali na morada em que Ele preparou para você, ou se você gostaria de voltar e viver mais uns bons anos aqui com a sua mamãe, seu papai, sua maninha, seus avós, tias e tios, primos e amigos. Talvez, nessa hora, você tenha olhado para baixo e tenha nos visto ao lado da sua cama, no hospital. Talvez, você tenha conseguido ver lá de cima o tamanho da dor que nós estávamos sentindo e o tamanho da saudade que nós sentiríamos caso a sua escolha fosse o céu. E, mesmo sabendo que não seria nada fácil, você tenha escolhido voltar. Não sei se algum dia eu saberei o que aconteceu com você naqueles breves minutos, mas, toda vez que me pego imaginando essas coisas, fico secretamente desejando que a memória desses momentos no céu esteja bem guardadinha no seu coração para um dia você me contar...
Sabe, meu pequeno, cada vez mais eu tenho certeza de que a sua história irá ajudar a mudar a história de tantas outras vidas, tantas outras famílias. Mas, de todas essas vidas transformadas por você, me arrisco a dizer que a minha seja uma das mais afetadas. Desde que você nasceu, você provocou uma transformação em mim que ninguém no mundo havia despertado. Você foi a primeira pessoa que me fez de fato querer ser melhor, querer corrigir meus erros e defeitos. Quantas vezes, meu pequeno, muito antes do acidente, eu me peguei rezando a Nossa Senhora, pedindo que Ela me ajudasse a ser uma mãe melhor para você. Mas, muito mais do que isso, nos últimos meses, você ajudou a transformar a minha alma, o meu espírito. Foi por sua causa que eu me tornei muito mais íntima de Deus. Foi pedindo por você que eu passei a sentir a presença real e constante Dele em nossas vidas. Foi na dor de te ver tão frágil e vulnerável que eu descobri o quão amoroso e misericordioso nosso Pai é. Se antes eu vivia buscando ser feliz nessa vida, hoje eu vivo buscando merecer um cantinho do céu. Hoje eu sei que por maior dor que se viva aqui, nada se compara à plenitude reservada a nós na vida eterna. Hoje eu sei que tudo o que nós fazemos importa, mesmo as pequenas coisas, e até mesmo nessas pequenas coisas eu passei a querer viver como Ele mesmo nos ensinou. Foi você, meu pequeno que tornou mais possível o meu encontro com Deus. E, pensando bem, talvez Ele mesmo tenha guardado para Ele o prazer de me contar como foi quando você O visitou no céu e de toda a bagunça que você certamente aprontou por lá.
Hoje não vai ter festa, meu amor. Mas por um motivo bem simples: você sempre curtiu tanto as suas festas de aniversário, que não achamos justo fazer uma que você não possa aproveitar. Tão logo você estiver pronto, meu pequeno, você não terá apenas uma, mas uma infinidade de festas. Feliz aniversário!
Com amor, Mamãe.