segunda-feira, 22 de maio de 2017

There are places I'll remember all my life, though some have changed.

UPDATES SOBRE A RIFA (19/07/2017):
Pessoal, felizmente as rifas que estavam sendo vendidas online já terminaram!! Agora só tem disponível rifa para ser comprada pessoalmente. Meus mais sinceros agradecimentos a todos que compraram, compartilharam e ajudaram a divulgar a nossa ação, foi um verdadeiro sucesso!! Estamos preparando ações futuras para ajudar o nosso pequeno, mais informações aqui.


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Estamos de casa nova, de novo. Logo que o pequeno teve alta, mudamos de mala e cuia para outra cidade, testar um tratamento durante 4 semanas. Deu certo, ele respondeu bem e vem melhorando aos poucos. Decidimos então trazer todo o resto que tinha ficado para trás por alguns meses. Não foi fácil deixar a casa nova para trás. Algumas pessoas nos perguntavam como iríamos conseguir continuar morando lá depois do acidente. Mas eu não me via em outro lugar. O pequeno gostava tanto de lá, nós gostávamos tanto de lá. O pouco tempo que havíamos passado lá antes do acidente tinha sido tão perfeito. Quando eu olhava ao redor, não eram os momentos de desespero que me vinham à mente. Eram memórias sempre cheias de alegria. Do pequeno correndo todo sorridente pela casa logo que chegou. Pulando na cama de estrelinhas assim que a viu. As inúmeras vezes que ele me chamou para desenhar no quadro negro que eu havia colocado para ele na sala de brinquedos, ou para empurrá-lo no balanço no quintal. O meu aniversário. Os passeios de bicicleta na rua. Os dias de sol na piscina...
A piscina. Nos primeiros dias eu evitava olhar para a direção dela. Tinha receio do que iria sentir. Aos poucos, comecei a enfrentá-la. E, diferente do que eu havia imaginado, eu não sentia dor ao encará-la. Eu via o pequeno ali feliz pulando da borda em direção aos meus braços, como fizemos inúmeras vezes. Tchibum ele dizia. Faz tchibum, mamãe. Um dia, quando viemos do hospital para casa tomar banho e descansar um pouco antes de voltar, tivemos um momento que eu jamais esquecerei. Era por volta de 18h, o dia estava muito quente. Enquanto sentia aquele calor gostoso de fim de tarde de verão, me peguei olhando para a piscina. A essa hora eu estaria chegando em casa depois do trabalho, pensei. O sol ainda se estendia por toda a extensão da piscina e imaginei quão gostoso seria tomarmos um banho nela em dias assim. Será que a água estaria gelada? Sentei na borda e coloquei meus pés dentro. Morninha. Chamei o respectivo para sentir. Ele se sentou ao meu lado. Quando menos percebemos, estávamos os dois dentro da piscina. De roupa e tudo. Uma família de papagaios brincava na árvore do terreno ao lado. Ficamos um bom tempo abraçados, apenas os observando e curtindo aquele fim de tarde. Não havia dor. Não havia desespero. Eu olhava ao redor e não via o fantasma do que eu encontrei na água no dia 15 de novembro de 2016. Não. Eu via o carrinho da pequena encostado num canto na sombra. Ela dormindo dentro enquanto eu, o respectivo e o pequeno fazíamos bagunça na água. Via minhas irmãs, meu sobrinho, infinitos finais de semana de verão. Banhos de piscina à noite, na chuva. Incontáveis momentos felizes. Nenhum pingo sequer de dor. Fechei os olhos e levantei a cabeça em direção ao céu. A oração que veio do meu coração naquele momento era de pura gratidão. Gratidão por saber que, não importa o que eu estivesse passando naquele momento, havia esperança. O pior já havia passado e o melhor ainda estava por vir. Acho que naquele momento eu me perdoei. Não havia mais culpa em meu coração. Nos momentos difíceis ela ainda encontra o caminho de volta e me faz sentir seu peso. Talvez ela nunca me deixe para sempre. Nem mesmo quando eu tiver novamente o pequeno sorridente me abraçando e chamando por mim. Ainda assim, sinto que me perdoei pelo que aconteceu. Mais do que isso, sinto que Deus me perdoou. 
Não foi fácil deixar a casa nova para trás. Mas ela ficará guardada para sempre no meu coração. Nosso breve lapso de vida perfeita. Agora temos uma nova casa nova. Numa cidade repleta de memórias. Era onde sempre vínhamos passar parte das nossas férias, visitar a minha família. Alguns dos nossos melhores momentos com o pequeno vivemos aqui. Viro uma esquina e dou de cara com uma pracinha onde um dia fomos encontrar minha irmã e meu sobrinho para os dois brincarem, só que o pequeno dormiu no caminho e só acordou quando eles já tinham ido embora. Ou outro parque, onde nos divertimos  numa tarde procurando macaquinhos nas árvores. Vejo um ônibus passando e lembro do dia que fomos eu e ele de ônibus para a praia, ele todo serelepe sentindo como se estivesse vivendo uma grande aventura. Passo na frente de um shopping e lembro de quando eu tentei assistir ali naquele cinema um filme com o pequeno, mas passei quase as 2h de filme cuidando dele nos degraus da escada. As memórias vem o tempo todo, aos borbotões, me arrancando sorrisos do nada. Sempre sorrisos, nunca lágrimas. No meu coração eu sei, memórias e momentos melhores ainda virão.
O primeiro pôr do sol que assistimos na nova casa nova, abençoando este novo começo.
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Updates sobre o pequeno: ele segue melhorando. Praticamente não tem mais espamos pelo corpo, diminuiu muito o tônus muscular, melhorou a postura, está dormindo melhor, passando o dia muito mais calmo e atento ao ambiente ao seu redor. Reage cada vez mais a barulhos, foca mais o olhar, mexe a cabeça procurando coisas ao seu redor, vocaliza mais - principalmente quando fazemos algo que ele não gosta, como escovar seus dentes ou aspirar o nariz. Está começando a engolir, e se livrando super bem da secreção pela tosse. Temos lido muito sobre lesão cerebral e tratamentos (aliás, pretendo fazer um post sobre livros excelentes que eu li) e tem muita coisa a ser feita pelo pequeno. Muuuuita coisa. Estamos apenas no começo. Como eu disse, o amanhã é de muita esperança.

Obs.: a mudança me deixou mais tempo afastada do blog que eu gostaria. Demorei até conseguir dar conta de colocar a casa em ordem. Sigo prometendo melhorar a frequência por aqui e pedindo desculpa por ainda não ter conseguido. E os comentários, obrigada de coração por todos! Leio e guardo cada palavra com carinho, não tenho mais conseguido responder, mas saibam que cada comentário me traz ainda mais força!