segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Less than perfect.

Se tem uma coisa que eu gosto de fazer nessa vida é ler. Sempre gostei, desde muito pequena. E esse meu gosto por livros potencializou durante a gravidez. Tudo que me indicavam ou eu achava que era interessante eu fui atrás de ler. E confesso que isso acabou me atrapalhando um pouco quando me vi com o pequeno nos braços e precisei começar a colocar em prática tudo que li. Mas isso é assunto para um outro momento. Ainda quero falar sobre como tanta leitura atrapalhou o florescer do meu instinto materno, mas não agora. Agora eu quero apenas compartilhar um dos melhores textos que eu já li na vida. "A coragem de ser imperfeito" de Brené Brown. Eu fiquei sabendo desse livro na palestra 'Comunicação Não Violenta para Mães' apresentado pela Carolina Nalon num encontro de maternagem virtual que eu participei (excelente palestra e excelente pessoa by the way, me inscrevi na newsletter dela e venho adorando tudo que recebo!!). Ela citou esse livro no meio da palestra e só o título já me fascinou. Eu não tenho coragem de ser imperfeita. Errar e deixar que os outros percebam meu erro é uma das coisas que mais me deixam angustiada. Eu não preciso estar sempre certa, mas definitivamente eu não quero estar errada. A vergonha que sinto quando vejo um defeito ou erro meu exposto é um dos meus maiores pontos fracos, e um dos tópicos que ela mais aborda no livro. Aliás, o livro trata exatamente disso, de como se mostrar vulnerável, passível de erros e defeitos, aos outros é uma das coisas mais difíceis que existe. Mas uma das mais libertadoras.
O livro inteiro é excelente, mas tem um capítulo específico que me emocionou demais. Capítulo 7: "CRIANDO FILHOS PLENOS: OUSANDO SER O ADULTO QUE VOCÊ QUER QUE SEUS FILHOS SEJAM". Faça o que eu digo e não o que eu faço. Quantas pessoas não foram criadas assim? E quantas dessas pessoas não acabaram sendo um espelho perfeito das atitudes de seus pais ou daqueles que os criaram? Crianças são extremamente perpiscazes e notam incongruências entre palavras e ações. Elas estão sempre nos observando e imitam praticamente tudo que fazemos. Crianças aprendem por imitação. A primeira coisa que o pequeno fez quando pegou um celular na mão, foi encostar na orelha. Aliás, antes disso, o primeiro objeto que ele pegou que lembrava de longe um celular, ele encostou na orelha e desatou a 'falar'. Não precisa ser muito inteligente pra saber que ele só fez isso porque nos viu fazendo. E não precisa ser muito inteligente pra saber que de imitar um gesto simples a imitar uma atitude é um piscar de olhos. E esse capítulo é a tradução perfeita dessa relação de educação. Eu sinceramente gostaria de transcrevê-lo por inteiro aqui, mas não seria muito ético. Por isso vou destacar apenas alguns pontos que mais mexeram comigo, espero que seja o suficiente para despertar a vontade de ler o livro em outros mais...

"(...) Essa é a razão pela qual os pais são tão críticos uns com os outros – nós nos apegamos a um método ou abordagem e rapidamente o nosso jeito se torna o certo. Quando nos agarramos obsessivamente às nossas escolhas sobre educação e vemos alguém praticando outras formas, geralmente percebemos essa diferença como uma afronta ao modo como educamos nossos filhos. Criar filhos é um campo minado de vergonha e julgamento precisamente porque muitos pais têm dificuldade em lidar com a incerteza e a dúvida nessa área da vida. Enterrada em algum lugar profundo de nossas esperanças e nossos receios a respeito da maternidade e da paternidade está a verdade assustadora de que não existe perfeição na criação de filhos nem garantias."
(...)
 "Não há dúvida de que nosso comportamento, nossos pensamentos e nossos sentimentos estão tanto dentro de nós quanto são influenciados pelo ambiente. Mas quando se trata de sentimentos de amor, aceitação e valorização, somos estruturalmente moldados por nossa família de origem – pelo que escutamos, pelo que nos contam e, talvez o mais importante, pela maneira como vemos nossos pais se relacionarem com o mundo.
Como pais, podemos ter menos controle do que pensamos sobre o temperamento e a personalidade dos filhos e menos controle do que desejamos sobre a cultura da escassez. No entanto, temos oportunidades poderosas de educação em outras áreas: a maneira como ajudamos os filhos a entender, potencializar e aproveitar sua estrutura emocional e como lhes ensinamos a combater as insistentes mensagens da sociedade que dizem que eles nunca serão bons o bastante. Em se tratando de ensinar as crianças a viver com ousadia na sociedade da escassez, a questão não é tanto “Você está educando seus filhos da maneira certa?”, mas, sim, “Você é o adulto que deseja que seus filhos se tornem um dia?”.
Como escreveu Joseph Chilton Pearce: “O que somos ensina mais a uma criança do que o que dizemos, portanto precisamos ser o que queremos que nossos filhos se tornem.” Embora a vulnerabilidade da criação de filhos seja muitas vezes assustadora, não podemos nos armar contra ela nem colocá-la de lado, pois ela é o solo mais rico e mais fértil para ensinar e cultivar vínculos, significados e amor.
A vulnerabilidade está no centro da história familiar. Ela determina nossos momentos de maior alegria, medo, tristeza, vergonha, decepção, amor, aceitação, gratidão e criatividade. Quer estejamos segurando os filhos nos braços, caminhando ao lado deles, seguindo-os por toda parte ou gritando através de portas trancadas, a vulnerabilidade é o que molda quem nós somos e quem nossos filhos são.
"
(...)
"Na primeira vez que pedi a alunos do ensino fundamental que levantassem definições, um deles escreveu: “Não se sentir aceito no colégio é realmente difícil. Mas não é nada, comparado ao que sentimos quando não somos aceitos em casa.” Quando perguntei aos estudantes o que essa resposta significava, eles usaram os seguintes exemplos:
- Não atender às expectativas dos pais.
- Não ser tão descolado ou popular quanto seus pais gostariam que você fosse.
- Não ser tão inteligente quanto os pais.
- Não ser bom nas mesmas coisas que seus pais são ou foram.
- Deixar os pais envergonhados por não ter muitos amigos ou por não ser um
atleta.
- Seus pais não gostarem de quem você é e do que você gosta de fazer.
- Sentir que os pais não se importam com o que acontece em sua vida.
Se quisermos estimular a autovalorização em nossos filhos, precisamos fazer com que eles saibam que são aceitos pela família e que esse sentimento é incondicional. O que faz disso um grande desafio é que nós mesmos lutamos por essa sensação de aceitação – para saber que somos parte de alguma coisa, não apesar das nossas vulnerabilidades, mas por causa delas. Não podemos dar aos filhos o que não temos, o que significa que precisamos trabalhar para desenvolver uma percepção de aceitação junto com eles.
"
(...)
"Comprometimento exige o investimento de tempo e energia. Isso significa sentar com nossos filhos e tentar entender seus mundos, seus interesses e suas histórias. Pais engajados e plenos podem ser achados em ambos os lados do polêmico debate sobre a criação de filhos. Eles vêm de tradições e culturas diferentes e defendem valores distintos. O que têm em comum é colocarem em prática os seus valores e adotarem a seguinte postura: “Eu não sou perfeito e não estou sempre certo, mas estou aqui,aberto, prestando atenção, amando-o e estando completamente presente.”
(...)
"De acordo com Snyder, os filhos geralmente aprendem a esperança com seus pais. Para isso, as crianças necessitam de relacionamentos que sejam marcados por limites, consistência e apoio. Filhos com altos níveis de esperança tiveram experiências com a adversidade. Foi dada a eles a oportunidade de lutar, e, ao fazer isso, eles aprenderam a acreditar em si mesmos. Criar filhos que sejam esperançosos e que tenham a coragem de ser vulneráveis significa recuar da
superproteção e deixá-los experimentar a decepção, lidar com os conflitos, aprender a se impor e ter a oportunidade de falhar. Se estivermos sempre seguindo nossos filhos na arena da vida, calando as críticas e assegurando sua vitória, eles nunca aprenderão por conta própria que têm a capacidade de viver com ousadia.
"
(...)

E o capítulo termina lindamente num 'Manifesto pela criação de filhos plenos' escrito pela própria autora, citado aqui no seu inteiro teor:

"Escrevi este manifesto sobre criar filhos porque tive que fazê-lo. Steve e eu precisamos dele. Desprezar as comparações em uma sociedade que usa aquisições e conquistas para avaliar valor não é fácil. Uso esse manifesto como um barômetro, uma prece e uma meditação quando estou lidando com a vulnerabilidade ou quando sou assolada por medo de não ser boa o bastante em alguma coisa. Ele me faz recordar a descoberta que mudou e que, provavelmente, salvou minha vida: Quem somos e como nos relacionamos com o mundo são indicadores muito mais fortes de como nossos filhos se sairão na vida do que tudo que sabemos sobre criação de filhos."

Manifesto pela criação de filhos plenos

Acima de tudo, quero que você saiba que é amado e que tem capacidade de amar.
Você descobrirá isso por meio de minhas palavras e atitudes: as lições sobre o amor estão na maneira como eu o trato e como eu trato a mim mesmo.
Quero que você se relacione com o mundo a partir de um sentimento de dignidade e de autovalorização.
Você descobrirá que é digno de amor, aceitação e alegria todas as vezes que me vir praticando o amor-próprio e acolhendo minhas próprias imperfeições.
Nós praticaremos a coragem em nossa família ao nos mostrarmos, ao deixarmos que nos vejam e ao valorizarmos a vulnerabilidade. Compartilharemos nossas histórias de fracasso e de vitória. Em nosso lar sempre haverá espaço para ambas.
Nós lhe ensinaremos a compaixão exercendo-a primeiro com nós mesmos, e então uns com os outros. Colocaremos e respeitaremos limites; valorizaremos o esforço, a esperança e a perseverança. Descanso e brincadeiras serão valores de família, assim como práticas de família.
Você aprenderá sobre responsabilidade e respeito ao me ver cometer erros e consertá-los, e ao ver como peço o que preciso e falo sobre como me sinto.
Quero que você conheça a alegria, para que juntos pratiquemos a gratidão.
Quero que você sinta alegria, para que juntos aprendamos a ser vulneráveis.
Quando a incerteza e a escassez baterem à nossa porta, você será capaz de recorrer à ética que permeia nossa vida diária.
Juntos, choraremos e enfrentaremos o medo e a tristeza. Vou desejar livrá-lo de sua dor, mas em vez disso ficarei ao seu lado e lhe ensinarei como senti-la.
Nós vamos rir, cantar, dançar e criar juntos. Sempre teremos permissão para sermos nós mesmos um com o outro. Não importa o que aconteça, você sempre será aceito em nossa casa.
Quando iniciar sua jornada para ser uma pessoa plena, o maior presente que poderei dar a você é amar intensamente e viver com ousadia.
Não irei ensiná-lo, amá-lo nem lhe mostrar as coisas de forma perfeita, mas eu me deixarei ser visto por você e sempre considerarei sagrado o dom de poder vê-lo verdadeira e profundamente.

De tudo que eu li sobre criação de filhos, esse capítulo foi de longe um dos que mais me tocou (há um outro também, de encher os olhos de lágrimas, mas é de outro livro, fica para outro momento...). Vontade de imprimir cada página, colar na cabeceira da cama e ler todos os dias antes de dormir. Só me resta esperar que eu consiga abraçar a minha própria vulnerabilidade de tal forma que eu possibilite ao meu pequeno me conhecer por inteira, erros e acertos, defeitos e qualidades. E que eu saiba usar toda a coragem que a maternidade tem me trazido para que eu consiga de fato assumir minha imperfeição e ser o adulto que eu desejo que um dia o pequeno seja.

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