segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Uma vida inteira em apenas uma semana.

UPDATES SOBRE A RIFA (19/07/2017):
Pessoal, felizmente as rifas que estavam sendo vendidas online já terminaram!! Agora só tem disponível rifa para ser comprada pessoalmente. Meus mais sinceros agradecimentos a todos que compraram, compartilharam e ajudaram a divulgar a nossa ação, foi um verdadeiro sucesso!! Estamos preparando ações futuras para ajudar o nosso pequeno, mais informações aqui.

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Logo que entramos na ambulância, o médico que havia acabado de trazer meu filho de volta à vida falou cheio de otimismo que as suas pupilas já estavam reagindo e que ele estava brigando para respirar sem a ventilação mecânica. Era o suficiente para acalmar meu coração por ora. Respectivo foi para casa buscar roupas e nossos documentos e eu segui para o outro hospital, onde o pequeno seria internado na UTI. A primeira vez que andei de ambulância, que Deus permita que seja a primeira e única, eu pensava. Quando chegamos, eu permaneci na recepção passando os dados necessários para a internação, enquanto subiam com ele para a UTI. Quando consegui finalmente subir, tive que ficar esperando do lado de fora, eles estavam fazendo todos os procedimentos de entrada dele. Pouco tempo depois respectivo chegou e pude finalmente tirar a roupa molhada. Foi então que ele me contou que havia entendido o que tinha acontecido. Quando voltou em casa, ele foi olhar a piscina. Havia dois protetores solares dentro dela. Esses protetores, antes, estavam em cima da mesa da churrasqueira, no lado oposto da piscina. Pequeno deve ter se entediado com a TV e resolveu ir para a parte externa. A mesa ficava perto do seu escorregador. Ele deve ter ido brincar quando viu os protetores e teve a ideia de jogá-los na piscina. Ele gostava de jogar coisas na piscina quando estávamos juntos tomando banho nela. Provavelmente subiu no banco, pegou um, desceu, foi até a piscina e jogou. Depois voltou para fazer a mesma coisa com o outro. Ele não tinha habilidade ainda para fazer tudo isso segurando os dois. Na segunda vez, foi quando o acidente provavelmente aconteceu. Ou ele teria se desequilibrado na hora de jogar, ou caiu tentando pegar de volta. Levando tudo isso em consideração, o tempo que ele deve ter levado para fazer tudo isso, não devia ter ficado tanto tempo na água...
Pouco tempo depois, uma enfermeira apareceu na porta para nos dizer que estava tudo bem, nos levou rapidamente até seu leito apenas para darmos uma olhadinha nele e nos explicou que teríamos que esperar ainda um tempo, pois iriam fazer uma série de exames nele. Não lembro quanto tempo ficamos, mas pareceu durar uma eternidade. Enquanto esperávamos, vimos um helicóptero pousar do lado de fora e os funcionários da UTI começaram a correr e se preparar, mais uma criança em estado grave estava chegando. Ouvimos a médica plantonista informando a uma outra médica que estava passando no corredor, mais um afogamento, o segundo do dia. As portas da UTI permaneceram abertas durante um bom tempo. Mas ninguém entrou. E com o passar do tempo nós concluímos com um aperto forte no coração que a segunda criança não tinha tido a mesma sorte do pequeno e não tinha passado do pronto socorro...
Depois de um tempo de espera, vieram nos informar que o pequeno seria levado para fazer uma tomografia. Meu corpo inteiro gelou. Eu sabia que era aquela o momento que nós enfim saberíamos se ele ainda corria risco ou não. Respectivo virou para mim: precisamos ligar para a família. Até então não tínhamos tido coragem de falar com ninguém. Como iríamos contar o que tinha acontecido? Como eu iria encarar a minha família e a dele? Como eu iria dizer para os avós do pequeno que algo tão terrível tinha acontecido com uma das coisas mais preciosas da vida dele? Eles iriam querer me matar. Eu com certeza iria querer me matar. Eu queria me matar naquele momento... Tínhamos a sincera esperança de poder contar apenas depois, dali algumas horas, quando o pequeno estivesse bem e tudo não tivesse passado de um susto. Eu não tenho coragem, lhe respondi. Mas nós precisamos de gente rezando junto com a gente, ele retrucou. Verdade. Tudo bem, que venha a ira sobre mim, o pequeno precisa disso muito mais do que eu. Enquanto respectivo falava com seus pais, peguei o celular e fiz a ligação mais difícil de toda a minha vida. Liguei para a minha irmã mais velha, contei-lhe tudo o que havia acontecido e pedi que ela contasse a nossa outra irmã e a nossa mãe. Eu não conseguia. Falar uma vez já tinha sido mais do que eu podia suportar naquela hora. Notícia dada, fomos juntos até a capela do hospital, nos ajoelhamos e rezamos.
O resultado foi melhor do que esperávamos, foi o que nos falaram os médicos depois da tomografia (nosso filho foi acompanhado por diversos médicos no tempo que esteve internado, irei me referir a eles sempre no plural a fim de preservar a identidade de qualquer um deles). Pudemos enfim entrar para ficar com o pequeno. Ele estava entubado, sedado, estável. E esse era o principal objetivo agora, mantê-lo estável e garantir que o cérebro não sofreria mais nenhuma injúria. Apesar da tomografia ter deixado todo mundo um pouco otimista, era apenas a primeira, nos explicaram. As lesões decorrentes da falta de oxigenação poderiam aparecer em até 48 horas. Então estávamos mais calmos, porém ainda não completamente livres de preocupações. O dia seguinte correu sem nenhum susto. Eu checava as pupilas de minuto em minuto, e elas se mantinham pequenininhas, lindas. Tínhamos vencido as primeiras 24 horas, faltavam só mais 24. Minha irmã e minha mãe tinham chegado durante a madrugada e os pais do respectivo chegaram pela manhã. Todos com o coração em frangalhos, mas prontos para nos dar todo o suporte que precisávamos. A UTI tinha apenas dois pequenos períodos de visitas durante o dia, e eles precisaram se revezar para ver o pequeno. No período da noite, iria primeiro o pai do respectivo e depois a minha irmã. Saí para ir ao banheiro e quando voltei encontrei um vô emocionado com lágrimas escorrendo pelo rosto na sala de espera. Ele mexeu a mão para mim, me contou cheio de alegria. Entrei com a minha irmã e fiquei de lado enquanto ela namorava o sobrinho. Foi quando ela me chamou a atenção, ele estava mexendo os pés e mãos. Olhei para ele com o coração aos pulos e então notamos algo mais: seus olhos estavam se abrindo. Eu não podia acreditar!!! Chamamos os médicos e eles nos explicaram que ele ainda estava sob sedação. Que no dia seguinte iriam começar a diminuir. O pequeno estava querendo acordar mesmo sob sedação, era a cara dele! Em seguida, reforçaram a dose para que ele voltasse a dormir e deixasse o corpo e, principalmente, o cérebro se recuperar como deveria. Naquela noite eu mal dormi de tanta ansiedade. Se o pequeno havia acordado sob sedação, com certeza já estaria despertando assim que começassem a diminuir os medicamentos.
Passei o dia com os olhos vidrados no pequeno, esperando que a qualquer momento ele começasse a demonstrar os sinais que tinha mostrado na noite anterior. Mas, conforme as horas passavam sem que houvesse qualquer reação dele, meu coração começou a se angustiar. Havia mais umas coisas acontecendo. O pequeno estava começando a apresentar febre, as enfermeiras estavam o dia inteiro tentado controlar a sua temperatura. Um possível sinal de sofrimento cerebral, nos explicaram. E, para completar, havia algo de diferente nas suas pupilas. Elas não estavam mais reagindo como nos dias anteriores. Decidiram fazer uma novo tomo, para checar se havia aparecido alguma lesão. E, então, o laudo: havia uma lesão significativa no cérebro, o pequeno definitivamente não sairia dessa sem sequelas. Mas qual tipo de sequela? Era impossível de saber até que ele acordasse, nos falaram. A dor daquela informação nos invadiu e decidimos então abrir o acontecido para mais pessoas. Quantos mais soubessem, mais estariam rezando pelo pequeno. Apesar da dor, decidimos nos manter otimistas. Como não se sabia qual tipo de sequela ele apresentaria, optamos por nos apegar às mínimas possíveis. O pequeno era forte e cheio de vida, ele se adaptaria e superaria qualquer sequela que aparecesse, e nós faríamos tudo quanto fosse possível para que ele sofresse o mínimo com as novas limitações.
E os dias que se seguiram, passamos assim, confiantes e rezando pela sua recuperação. Tínhamos ouvido tantas vezes sobre casos inexplicáveis para a medicina, o pequeno com certeza seria mais um deles. Rezávamos e esperávamos ele acordar. Na segunda noite depois do laudo, eu saí da UTI para fazer alguma coisa e, quando voltei, encontrei o respectivo de pé, do lado do pequeno, segurando a sua mão, com lágrimas nos olhos. O que aconteceu, perguntei aflita. Ele está acordando, me respondeu um respectivo tomado pela emoção. Me explicou que ele tinha ido mexer em alguma coisa próxima da mão do pequeno e, quando este sentiu seu toque, fechou a mãozinha sobre seu dedo. Me chamou para perto dele, encaixou meu dedo na sua mãozinha fechada e me mostrou como ele apertava mais forte cada vez que a gente mexia. Um tempo depois, me debrucei do seu lado e comecei a cantar algumas músicas em seu ouvido, enquanto mantinha sua mãozinha levemente apoiada sobre a minha. Foi quando senti o peso de seu braço empurrando de volta a minha mão. Ele estava reagindo! Ele não tinha dado mais nenhum sinal depois daquela noite em que quase acordou e agora estava reagindo de novo. Ele voltaria para nós, não havia dúvidas!
No dia seguinte, uma nova equipe de médicos se juntou a nós para explicar mais uma vez as imagens da tomo. Eu não estava muito interessada em ouvir novamente palavras duras sobre o quadro pequeno, mas entendi que era uma preocupação dos médicos nos deixar o mais por dentro possível da saúde do nosso filho e me sentei para ouvir. A situação é grave, a lesão é grave e as sequelas necessariamente serão graves. Ouvi atônita. Aliás, a probabilidade maior é que o quadro se encaminhe para morte encefálica. Só não é possível dizer isso dele agora, porque ele ainda apresenta movimento respiratório próprio. Cada palavra que eu ouvia arrancava um pedaço de mim. Não era possível isso. Ontem mesmo ele estava reagindo a nossa presença. Reflexos, nos explicaram. O cérebro se divide em duas partes, o tronco e o bulbo. Tudo que estávamos vendo do pequeno estava vindo do bulbo, a parte mais primitiva do cérebro, de onde a maioria das coisas que vinham eram mero reflexo. O que nos interessava era o tronco, e por ora não vemos nada dele. Insistimos nas reações da noite anterior, como poderiam ser meros reflexos? Notando que não estávamos entendendo o que eles estavam nos dizendo, os médicos decidiram ser mais enfáticos. Olha, quando cortamos a cabeça de um sapo, ele continua se mexendo durante algum tempo. É exatamente igual com o seu filho e esses movimentos que vocês estão vendo. Puro reflexo. Foram as palavras que ouvimos. Nosso pequeno, o que havia de mais perfeito e maravilhoso na nossa vida estava ali deitado diante de nós, sendo comparado a um sapo decapitado. Era surreal aquilo. Como podia ser verdade? Ele tinha quase acordado há apenas alguns dias, e agora estavam nos falando em morte cerebral. Não, não pode ser verdade. Resolvemos insistir. Do mesmo jeito que o quadro pode se encaminhar para o pior, ele pode também melhorar, perguntamos. É, tem que ter fé, mas é pouco provável, foi a resposta.
Saí da UTI aos prantos, chorando como nunca havia chorado na vida. Aquilo tudo era um pesadelo, só podia ser. Há uma semana nós tínhamos a vida perfeita, uma família perfeita. E agora estávamos lidando com a pior dor que um ser humano pode lidar, a dor de perder um filho. Eu pedi tanto a Deus que me livrasse disso. Toda semana quando íamos à missa, eu Lhe agradecia por ser tão bondoso comigo e me encher de bênçãos e finalizava a oração com apenas um pedido: que Ele me livrasse da dor de perder meus filhos ou meu marido. Eu não sei se vou conseguir continuar acreditando Nele, falei ao respectivo. Se nós perdermos o pequeno desse jeito cruel, depois de eu pedir tanto que ele não me deixasse sentir essa dor, eu não sei se vou ser capaz de acreditar que Ele realmente existe. Precisamos ser fortes, respondeu o respectivo. Precisamos ser fortes pelo nosso outro filho. Tomada pela dor, proferi as palavras mais duras que eu poderia algum dia imaginar: eu não quero outro filho, eu quero o pequeno. (Minha amada pequena, rezo a Deus que tu não tenhas sentido no ventre as coisas que se passaram no meu coração. A dor é capaz de fazer uma pessoa pensar as coisas mais absurdas, mas quando ela passa, percebemos que a maioria das coisas que pensamos ou dissemos não é verdade...)
Desde o momento do acidente, nós não havíamos questionado Deus sobre nada do que estava acontecendo. Em nosso coração, não sentíamos que o que estava acontecendo era vontade Dele. Não. Na verdade nós sentíamos que Ele sabia o que iria acontecer e tinha nos dado todas as ferramentas necessárias para que salvássemos o pequeno. O aperto que eu senti no coração e que me fez buscar o pequeno pela casa. A incrível racionalidade que tomou conta do respectivo que, mesmo vendo o pequeno sem vida, conseguiu se manter firme fazendo os primeiros socorros. A decisão de ir até o hospital ao invés de esperar pela ambulância, decisão esta que ele apenas tomou porque alguns anos antes tinha visto o pai de um amigo enfartar e ficar esperando por mais de meia hora pela ambulância até enfim decidirem levarem eles mesmos ao hospital. O fato da gente ter conhecido o caminho do hospital apenas 3 dias antes do acidente. Até então nós sabíamos apenas o caminho de casa até a creche, o mercado e o meu trabalho. Não conhecíamos nada na cidade. No sábado anterior ao feriado, pequeno acordou reclamando de dor no pênis. Estava com a ponta avermelhada. Normalmente eu marcaria uma consulta com um pediatra dali alguns dias. Mas eu não conhecia nenhum pediatra e fiquei com dó de vê-lo reclamando da dor, então conversei com o respectivo e resolvemos levá-lo ao Pronto Socorro. Assim a gente já descobre onde fica, comentei no dia. Foi o que fez com que conseguíssemos chegar em apenas 3 minutos 3 dias depois. E o mesmo médico simpático que nos atendeu naquela manhã de sábado salvou a vida do nosso filho.
Deus quis salvar nosso filho. Nós tínhamos certeza disso. Se é fé que é preciso ter para reverter esse diagnóstico, então fé nós teremos. E não apenas nós. Nós contaríamos a todos os nossos conhecidos e formaríamos um exército tão grande de pessoas pedindo pelo pequeno que Deus teria que escutar. Em poucos minutos a notícia havia se espalhado e, em algumas horas, as mensagens começaram chegar. Inúmeras, até mesmo de pessoas que a gente nem conhecia. Pessoas de todos os lugares nos mandavam suas orações e nos enchiam com palavras de fé. Um verdadeiro exército, como nós havíamos desejado. Deus já estava do nosso lado, Ele iria nos atender. No dia seguinte, as mensagens não paravam de chegar e eu estava determinada a me manter com fé, independentemente do que os médicos me dissessem. Mas com o passar do dia, comecei a ver um pequeno pálido, com o corpinho frio, e poucos movimentos respiratórios próprios. Tudo que os médicos haviam nos falado no dia anterior parecia estar se concretizando. Eu tentava desviar meus olhos de tudo isso, me manter olhando para Deus. Assim como Pedro caminhando sobre as águas mantinha seus olhos em Cristo. Mas, assim como Pedro, eu sentia cada vez mais a força do vento e via o mar revolto ao meu redor. E, assim como Pedro, eu comecei a afundar...
Eu precisava sair dali. Chamei minha irmã e pedi que ela fosse para fora do hospital comigo. Eu não sinto mais a presença do pequeno, sys. Até ontem eu sentia ele tão presente, hoje eu olho e não vejo ele. Acho que ele está indo embora. E mais uma vez a dor veio dilacerando cada pedaço de mim. E eu chorei. E eu me revoltei. Como eu podia ter sido tão idiota? Como eu poderia ter deixado isso acontecer com o meu filho? Por que eu não levei ele para cima comigo? Por que eu não fechei a porta? Ah, a maldita porta. Por que diabos eu me esqueci dela? Como eu iria conseguir ser mãe depois disso? Como eu podia ter falhado de um jeito tão absurdo sendo mãe? Eu amava tanto aquele menino. Tanto. Ele sabia disso, eu não me cansava de falar isso para ele. Nesses dois anos eu tinha amado ele mais intensamente do que qualquer outra coisa na vida. Eu nunca tinha lhe negado colo, nunca havia o deixado chorando, sentava para brincar com ele todo dia depois do trabalho, mesmo cansada e com vontade de apenas me jogar no sofá. Sim eu tinha tido meus momentos ruins também. Momentos de impaciência, de erros, arrependimentos. Mas, eu com certeza tinha muito mais momentos bons do que ruins. Toda noite na hora de dormir, nós rezávamos juntos, agradecíamos ao Papai do Céu por todas as coisas que Ele nos dava. E toda vez eu repetia o quanto ele era especial, o quanto ele era amado. Eu tinha vivido plenamente esses dois anos de vida do pequeno, com todo meu coração e minha alma. Não havia arrependimento em mim de coisas que eu gostaria de ter feito a mais ou momentos que eu gostaria de ter aproveitado mais. Exceto pelo acidente. Mas será que esse único momento tinha a capacidade de apagar 2 anos de vivência amorosa? Sim, a minha falha tinha sido fatal, mas será que ela me definia como mãe? Aos poucos, as memórias de todos aqueles momentos felizes começaram a acalmar meu coração. Eu sabia que iria sofrer o resto da vida, que jamais me sentiria plena novamente. Mas eu sabia que parte de mim estaria em paz por ter vivido com plenitude a breve vida do pequeno. Eu não viraria as costas para Deus, afinal, Ele havia me permitido viver com um anjo, mesmo que por pouco tempo. A partir dali eu teria um único objetivo de vida: viver a vida seguindo as palavras do Pai, para que um dia eu merecesse o céu, para que, o dia que eu partisse, pudesse reencontrar o meu pequeno. Eu iria perder meu filho, mas não perderia a minha fé...
Mas e todas aquelas pessoas que estavam rezando por nós? Como elas se sentiriam com a partida do pequeno? Se eu não iria perder a fé, elas também não podiam perder. Elas tinham que saber que as orações delas nos tinham dados forças para viver em paz os últimos dias do pequeno. Elas tinham feito diferença na nossa vida e eu precisava agradecer a elas. Gravei uma mensagem e pedi para minha irmã guardar para o momento certo. Com o coração em pedaços, porém em paz, e os olhos ardendo de tanto chorar, olhei para o céu e falei: se era disso que Você precisava para levar ele, eu estou pronta, eu estou em paz. Eu entrego nas Tuas mãos o meu pequeno... 

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Nota sobre o atual estado do pequeno: como ele ainda não consegue comer sozinho, tivemos que fazer uma cirurgia para colocar a sonda diretamente em seu estômago e assim podermos voltar para casa para começar tratamentos intensivos de reabilitação. Ele teve algumas complicações pós-cirúrgicas, mas agora já está melhor e segue se recuperando. Esperamos que até o início da semana que vem ele já tenha alta.
Ah, a pequena segue na barriga. Com previsão de nascer a qualquer momento, pois já estamos na 38a semana... 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Gratidão define.

UPDATES SOBRE A RIFA (19/07/2017):
Pessoal, felizmente as rifas que estavam sendo vendidas online já terminaram!! Agora só tem disponível rifa para ser comprada pessoalmente. Meus mais sinceros agradecimentos a todos que compraram, compartilharam e ajudaram a divulgar a nossa ação, foi um verdadeiro sucesso!! Estamos preparando ações futuras para ajudar o nosso pequeno, mais informações aqui.

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Quando nós decidimos postar sobre tudo que temos passado com o nosso pequeno desde o acidente, não tínhamos ideia da repercussão que teria. Muitas pessoas já estavam sabendo do acontecido e estavam lutando ao nosso lado numa grande corrente de fé. Na nossa cabeça, o post chegaria até essas pessoas e talvez uma ou outra a mais... Mas foram quase 20 mil visualizações em dois dias!! Inúmeros compartilhamentos e dezenas de mensagens!! Pessoas que não nos conhecem, nem sequer nunca nos viram estavam tocadas com a nossa história e estavam incluindo o nosso filho em suas orações e pensamentos. Não tenho como expressar o quanto isso me emocionou.
Confesso que, no momento em que apertei no botão "publicar", respirei fundo e pensei: pronto, agora o mundo vai ter raiva de você pelo que você fez ao seu filho. Mas as mensagens que chegavam não traziam qualquer espécie de sentimento negativo. Muito pelo contrário. Me chamavam de guerreira, me parabenizavam pela força e pela coragem. Eu lia e pensava "Oi?! Vocês prestaram atenção no que vocês leram? Vocês perceberam que fui eu que me coloquei nessa situação quando permiti que algo tão trágico acontecesse ao meu filho? Ser forte é o mínimo que eu posso fazer por ele. O que eu estou fazendo é o mínimo que eu posso fazer depois de ter falhado nos cuidados com ele". E aí começaram a chegar as mensagens das mães. Como explicar essas mensagens tão lindas e tão cheias de amor? Inúmeras mães dividindo comigo as suas falhas, os seus momentos de desatenção que custaram ou não alguma dor aos seus filhos. Mães que não estavam bravas comigo porque eu não tinha cuidado direito do meu filho, mas que estavam preocupadas com o peso da culpa que eu estava carregando.
A todos vocês que me escreveram, vocês não tem ideia do que fizeram por mim e pela minha família. Quando nós decidimos tornar pública a nossa história, sabíamos que estávamos dando a cara a tapa. Eu dei a cara a tapa mas, ao invés disso, o que eu recebi foram os mais calorosos abraços. Obrigada de coração. Obrigada por todo o amor e fé que chegaram até nós. Isso só nos faz ter mais certeza da presença de Deus nessa luta.

Nossa ideia é escrever aos poucos tudo que aconteceu. Desde o acidente até hoje, nós tivemos uma vivência espiritual muito rica, que nos mudou profundamente, e queremos que vocês também tenham essa vivência e conheçam a grandiosidade de Deus da maneira como Ele tem se apresentado a nós. E para isso vocês precisam conhecer cada detalhe da nossa história de uma maneira muito íntima. De como nós nos sentimos e das coisas que passaram na nossa cabeça e coração diante de cada coisa que foi acontecendo ao pequeno. Mas como o post acabou tomando uma proporção muito maior do que nós poderíamos imaginar, chegando até inúmeras pessoas que ainda não sabiam do acontecido e não puderam acompanhar a evolução do quadro do pequeno, é justo que adiantemos para vocês o atual estado dele hoje. Apesar de já abrir os olhos, fazer sons vocais (gemidos e resmungos) e ter algumas respostas motoras (cabeça/pescoço e pernas/pés), ele ainda é considerado do ponto de vista médico como um paciente em coma, pois não apresenta sinais de consciência palpáveis. Não para os médicos pelo menos. Nós acreditamos que ele tem momentos de consciência e interação conosco, mas isso é o que nossa fé e amor de mãe/pai nos permite ver. A evolução dele do ponto de vista médico é uma incógnita, não se sabe até onde pode chegar nem quanto tempo pode levar. Até porque, já chegou mais longe do que eles imaginavam ser possível. Mas eles insistem em bater numa tecla: é uma evolução limitada em razão da gravidade da lesão. Isso é o que os médicos dizem. Não é o que o nosso Deus nos diz. Nas palavras do próprio Cristo, "Tudo é possível ao que crê" (Marcos 9: 23). E nós cremos. Não apenas nós, tem muita gente crendo junto com a gente. Muita mesmo. E todos seguimos numa única certeza: nós todos seremos testemunhas da glória de Deus manifestada na recuperação plena do nosso pequeno.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Dia D.

Mamãe, palavra doce. A mais doce das palavras eu diria. Duas pequenas sílabas que contém um amor tão imenso e puro que só um filho pequeno é capaz de expressar. Palavra esta que eu ouvi incessantemente no último ano todos os dias. Mil vezes por dia. Costumava brincar que um dia ele gastaria tal palavra de tanto falar. Mamãe. Abençoadas aquelas que ouvem diariamente sem cessar. Faz quase 70 dias que eu não ouço...
Ok, vamos por partes. No último post, eu celebrava o início de novembro, o início da vida que eu tanto pedi a Deus. Tínhamos acabado de começar nossa nova rotina, na nova cidade, na nossa nova casa. Ah a nova casa. Pequeno amou ela desde o primeiro momento que pôs os pés nela. Amou o quarto novo, com a cama de estrelinhas que carinhosamente preparamos para ele, para que ele não sentisse falta do berço que perderia para a irmãzinha. Amou a sala de brinquedos,  a piscina, o balanço, a rua onde ele brincava de bicicleta todo dia à noitinha quando eu chegava do trabalho. Um dia, voltando da escolinha, ele cantarolava musiquinhas enquanto eu dirigia, quando de repente ele vira pra mim e fala: "mamãe obrigada pela casa nova, eu adoro a casa nova". Vários foram os dias que eu falei pro respectivo, enquanto olhávamos nosso pequeno aprendendo a pedalar na bicicleta recém ganhada pela rua, que eu viveria assim pro resto da minha vida. Melhor que isso, só ganhando na mega, como eu já havia dito. Mal sabia eu que nossa vida dos sonhos duraria apenas 10 dias. Novembro seria sim o início de uma vida nova, mas uma vida completamente diferente do que poderíamos imaginar...
O feriado de 15 de novembro começou cinzento, nublado. Tínhamos combinado mais uma vez de ir conhecer o parque da Malwee, mas por algum motivo toda vez que programávamos tal passeio o dia amanhecia chuvoso. O sol iria aparecer em breve, mas nós não o veríamos. Pequeno acordou por volta das 8h30 e pediu para ficar assistindo desenho na cama de estrelinhas. Liguei o tablet para ele e voltei para a cama para mais uns minutos de preguiça. Passado um tempo, ele quis ir para a sala de brinquedos, desci com ele enquanto respectivo ficou fazendo umas coisas dele no andar de cima. Abri a casa para soltar os cachorros como de costume e preparei nosso café enquanto ele brincava. Um tempo depois, ele pediu para ver desenho na TV e deitamos juntos no sofá. Respectivo desceu e me pediu para ajudá-lo no andar de cima com umas coisas que estávamos preparando para as festas de final de ano da família. Levo o pequeno, eu perguntei. Nos olhamos. Não precisa. Ele estava entretido com a TV, seria rápido e não havia nada ao redor que ele pudesse quebrar ou lhe machucar. Ledo engano...
Fiquei cerca de 15 minutos no andar de cima, quando senti uma angústia enorme invadindo meu coração e vi uma única palavra surgindo como um alarme na minha mente: a piscina. Corri para o quarto de hóspedes, de onde era possível enxergar metade da piscina. Nada de estranho nem nenhum movimento na água. Desci as escadas chamando seu nome, mas só havia silêncio. Percorri rapidamente os olhos pela sala de brinquedos e de TV, nada. Saí para a parte externa, mas antes de olhar eu já sabia o que eu iria ver: o corpo do meu filho boiando inerte na água. Gritei pelo respectivo ao mesmo tempo que corria e pulava na água. Em questão de segundos eu havia tirado seu corpinho da piscina e o respectivo já estava agachado do seu lado fazendo os primeiros socorros e me pedindo para ligar para a emergência. O peso da barriga e da calça jeans molhada me atrapalharam para sair da água, mas a adrenalina me empurrou e saí deslizando pela casa à procura de um telefone. Antes que eu pudesse pensar em onde procurar, respectivo gritou pedindo a chave do carro, nós mesmos o levaríamos ao hospital. Corri para o banco de trás e recebi meu filho nos braços enquanto respectivo dirigia alucinadamente. Olhei para o pequeno, havia vômito em sua boca, ele estava branco, seu coração não batia e ele não respirava. Tentei com todas as minhas forças me manter focada fazendo a massagem cardíaca, mas por vezes o desespero tomava conta e eu só conseguia berrar que era tarde demais.
Conseguimos chegar no hospital em aproximadamente 3 minutos. Respectivo chegou buzinando, parou na porta do Pronto Socorro (que por providência divina havíamos conhecido apenas 3 dias antes) pegou o pequeno dos meus braços e entrou correndo no hospital. Eu respirei fundo e fui atrás. Me viram entrando toda molhada e já me indicaram o lugar para onde ele havia sido levado. Ficamos do lado de fora enquanto os médicos corriam do lado de dentro. Respectivo, sentado em prantos no chão, rezava. Eu parada de pé tentando ver o que acontecia do lado de dentro. Perdi as contas de quantas pessoas vieram me oferecer água e me dizer para ficar calma. Deviam estar alarmadas ao verem minha barriga de quase 7 meses de gravidez, imaginando o que o stress daquela situação poderiam causar a mim e ao bebê. Mas minha resposta era categórica, simples e franca: eu estou calma, eu tenho fé. De fato, naquele momento, apesar do desespero sentido no carro, eu só conseguia sentir a mais pura fé. Algo no meu coração me dizia que aquele não era o fim. Não daquele jeito. Passados alguns minutos, que mais pareceram uma eternidade, o bálsamo: uma enfermeira saiu da sala dizendo "graças a Deus". Pouco tempo depois, nos chamaram e deram a notícia: eles haviam conseguido reanimar nosso filho. Puseram meu dedo no seu pescocinho para que eu pudesse sentir seu pulso e foi aí que as primeiras lágrimas vieram. A batalha tinha sido ganha, mas não a guerra. Eu sabia que não bastava o coração estar batendo, o cérebro também tinha que ter sobrevivido ao tempo sem oxigênio. Nos explicaram que não havia UTI ali, que iriam transferi-lo para outro hospital e que eu poderia acompanhá-lo na ambulância.
De lá para cá já foram mais de 60 dias e continuamos no hospital. Pequeno já superou a maioria dos diagnósticos que foram dados, mas continua lutando para voltar a ser o pequeno que nós conhecemos. Lutando bravamente. Nos mostrando que na verdade ele continua sendo o pequeno cheio de vida e energia que nós conhecemos, mesmo acamado e não totalmente consciente... Quanto a mim, não há desculpa pela minha falha. Acredite, desde o acidente, não houve nenhum momento em que eu tentei justificar os minutos de negligência que quase fizeram meu filho perder a vida e que mudou não só a vida da nossa família, mas mudou drasticamente quem eu sou. Sim, nós havíamos fechado 10 dias antes com uma empresa para colocar a cerca ao redor da piscina. Eles haviam nos prometido instalar na sexta anterior. Não foram, alegando atraso do fornecedor e prometeram para segunda. Atraso de novo, prorrogaram para quinta. Terça foi o acidente, quinta-feira a cerca estava instalada. Não é desculpa. Fui eu quem não levou o pequeno para cima comigo, fui eu que nem sequer pensei em fechar a porta da área externa (não me pergunte o porquê, já me perguntei um milhão de vezes e ainda não consegui achar a resposta). Fui eu que fiquei tempo demais longe dele antes de me preocupar. Essa culpa é toda minha e eu abracei ela desde o primeiro momento. Inúmeras pessoas já me falaram para não me culpar. Talvez um dia eu consiga. Mas agora não é a hora de lidar com isso. Agora é hora de lutar lado a lado com o pequeno. Nossa maior arma: fé. Ela que tem nos levado muito mais longe do que muitos médicos acreditaram que chegaríamos. E ela sem dúvida que nos levará à recuperação plena do nosso filho.
Eu demorei para conseguir reviver o que aconteceu e mesmo hoje enquanto escrevia eu precisei parar e respirar fundo algumas vezes. Mas escrever sempre foi minha melhor terapia. E há muita coisa que eu tenho vivido nas últimas semanas que eu preciso dividir. Vivências de fé e de amor que eu sinto que não podem ficar guardadas apenas no meu coração e na minha memória. Afinal, essa luta não envolve apenas eu, o respectivo e o pequeno. Essa luta já alcançou um número de pessoas muito maior do que eu possa mensurar - sério, é incrível e emocionante o alcance que a história do pequeno teve. Pessoas para as quais eu devo uma enorme gratidão por me manterem firme de pé nos momentos em que tudo que eu queria era me jogar no chão e chorar. É para vocês que hoje eu escrevo, para que vocês tenham noção do que cada oração e cada mensagem recebida fez por nós e pelo pequeno. Essa luta não é só nossa, é de todos vocês. Sejam bem-vindos ao nosso campo de batalha.