segunda-feira, 30 de maio de 2016

Fathers be good to your daughters, daughters will love like you do.

Há dias venho tentando escrever esse post. O caso é que, algumas semanas atrás, numa conversa à toa com o respectivo, comecei a me dar conta da responsabilidade que temos com o adulto que o pequeno se tornará. Não com o adulto saudável, bem sucedido e bem educado que esperamos que ele seja. Isso também. Mas com o adulto que se sente bem consigo mesmo independentemente das suas escolhas, que não tem medo de se expor, que enfrenta a vida de peito aberto, que confia e é confiante. Ou com o adulto que tem dificuldade de se entregar num relacionamento, que estremece diante de qualquer dificuldade, que não sabe reconhecer o próprio valor e que se deixa levar pelas opiniões alheias. É uma responsabilidade tão gritante e ao mesmo tempo tão sutil que, apesar da sua importância, pode passar completamente despercebida. Já vi conversas de pais/mães reclamando de seus filhos - já adultos -, do que eles se tornaram ou de como eles são e me vi perguntando mentalmente se aqueles pais não tinham a noção de que eles são parte dessa reclamação. Uma boa parte, aliás. Hoje tenho bem clara em mim essa noção de que sou responsável por cada sentimento que provoco no pequeno e por cada reação emocional que sou capaz de gravar nele a partir dos meus atos. Mas será que em algum momento eu vou me esquecer disso? Será que, por algum motivo ao longo do caminho, os pais esquecem a carga de responsabilidade que seus atos tem sobre seus filhos?
Pare um segundo e pense em você mesmo. Quantas características da sua personalidade você atribui aos seus pais? Aos seus traumas de infância? Quantas vivências difarçadas no seu dia a dia de anos atrás fazem hoje parte do seu mais íntimo ser? Quantos bons momentos do seu passado mais remoto você guarda com ternura e te fazem agir de tal maneira que você busque reproduzir algo que um dia te fez se sentir tão bem? E não digo tudo isso tendo em mente apenas nossos defeitos e fraquezas. Muito pelo contrário, digo tudo isso pensando nas coisas mais valiosas que podem vir da relação pais/filhos. Afinal, é com os pais que os filhos aprendem a amar. Ou deveria ser. Somos o primeiro contato deles com o amor, a sua primeira relação amorosa. Que pode ser de confiança, aceitação, empatia. Ou de cobrança, chantagem emocional, constragimento. Uma relação de respeito entre dois seres humanos providos de sentimentos e passíveis de erros, ou uma relação puramente hierárquica.. 
Lembro nos primeiros dias de vida do pequeno, de como eu o via tão puro, tão limpo. Limpo no sentido mais literal da palavra. Eu tomava todo cuidado do mundo para mantê-lo longe de qualquer sujeirinha. Na minha cabeça, eu deveria cuidar para que ele não tivesse contato com sujeira, germes e afins que nos cercam. Eventualmente ele acabaria tendo esse contato mas, até lá, ele teria sido protegido tempo suficiente para estar mais imune aos males que a sujeira e os germes poderiam lhe causar. Naquela época, eu pensava nisso como uma questão de higiene, saúde. Hoje eu vejo como uma analogia mais do que perfeita da proteção emocional que eu devo proporcionar ao pequeno. A vida é dura, cruel e ele tem que aprender isso desde pequeno. Ouvi muitas vezes essa frase e quase cheguei a acreditar que era assim que eu deveria agir com meus filhos. Hoje, com o pequeno e toda sua vulnerabilidade diante de mim, não é mais assim que eu penso. Não acho que meu papel seja ser dura com ele para que ele saiba que o mundo é assim. Assim como eu fiz nos seus primeiros meses de vida com a sua saúde física, eu posso tentar protegê-lo de toda a "sujeira". Eventualmente ele irá se deparar com a dureza de que tanto falam. Até lá, se tudo der certo, ele terá imunidade emcional suficiente para conhecer as dificuldades da vida..
Para minha felicidade, amanhã eu vou participar da exposição do filme "O Começo da Vida" organizada pela minha querida doula que acompanha o pequeno desde os tempos de barriga. Veio bem a calhar nesse meu pequeno momento reflexivo. Até pensei em adiar esse post mais um pouco, esperar para ver o efeito que o filme causará em mim. Acabei achando mais sincero deixar registradas aqui as minhas considerações pré-filme. E confesso, pelo pouco que vi no trailer, estou com boas expectativas. Se estou certa ou errada sobre toda essa questão da responsabilidade e pela maneira como espero agir diante disso, quem de fato sabe? Talvez nem mesmo o filme consiga me responder. Talvez a resposta esteja me esperando daqui uns 20 ou 30 anos, estampada no ser do futuro adulto que o meu pequeno se tornará.
Fonte: http://ocomecodavida.com.br/

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