quinta-feira, 5 de maio de 2016

I know will be alright, it's just overkill.

Um dos meus maiores defeitos é a ansiedade. Acho inclusive que já mecionei isso algumas vezes por aqui. Eu sempre fui uma pessoa muito ansiosa, desde que me conheço por gente. Mas me tornar mãe intensificou esse pequeno detalhe do meu ser de uma maneira quase drástica. Por diversas vezes me vi tendo que enfrentar situações que elevaram minha ansiedade à potência máxima, e todas essas vezes me vi chegando à conclusão que ficar ansiosa não me levou lugar algum. Não só não me ajudou, como me atrapalhou muito. E também não resolveu o problema, que aliás acabou se resolvendo por si só. Ficar ansiosa só faz com que eu encha minha mente de questões geralmente insolúveis, de coisas que não dependem de mim, e acabe deixando passar os detalhes que realmente importam. E isso tudo é muito fácil de enxergar agora, na calmaria, mas quando a ansiedade bate, aí mermão, só Jesus..
Logo antes de entrarmos de férias, eu andava incomodada com o fato do pequeno passar quase o dia todo com a chupeta na boca. No final/início do ano, nós tínhamos conseguido reduzir muito o uso da dita cuja, estavámos conseguindo até fazer ele tirar sonecas durante o dia sem ter que recorrer a ela. À noite não, nem pensar. Era nosso amuleto da sorte e resolvia qualquer chorinho sem motivo no meio da madrugada. Mas no mês que precedeu as férias, ele desatou a pedir a tal da "pi" (pi, do dicionário arthurês, significa chupeta, pássaro ou peixe, depende da ocasião e do cenário que o cerca). E aquilo foi me deixando extremamente ansiosa. Quando ele nasceu, eu relutei um pouco para dar a chupeta, mas acabei cedendo ao cansaço e aos anseios de um pequeno que chegou a passar 3 horas direto pendurado no meu seio. Minha ideia era não deixar ele passar dos dois anos de idade ainda dependendo dela. Já estava planejando fazer o ritual de entrega da chupeta ao Papai Noel nesse Natal. Ele estaria com 2 anos e 2 meses, e dois meses a mais era um período aceitável levando em conta a proximidade das festas de final de ano e o costume que se tem de usar essa desculpa para a "deschupetização". Mas aquela nova necessidade dele de pedir a chupeta o tempo todo começou a me deixar preocupada. Enfiei na cabeça que, se antes nem ligava tanto e agora estava passando a pedir cada vez, essa necessidade iria aumentar dia a dia até chegar ao ponto de tornar o objetivo de fazê-lo largar praticamente impossível. Minha ansiedade vislumbrou o pior dos cenários e me fez começar a matutar o que eu poderia fazer para reverter a situação.
Então nós saímos de férias. Ficamos os primeiros 10 dias na casa da minha irmã, com o intuito de deixar os primos se curtindo o máximo que podiam. Com toda a agitação que havia ao redor dele, comecei a botar meu plano em prática: recusar os pedidos pela "pi" distraindo-o com outras coisas, para que assim ele voltasse a usar só na hora de dormir. Logo de cara os pedidos diminuiram, ele estava distraído demais brincando e se divertindo para lembrar da chupeta. Mas, ainda assim, ele pedia de vez em quando. Eu desconversava e chamava a atenção dele para outra coisa. Foi funcionando e aos poucos eu já pude voltar a vislumbrar uma "deschupetização" sem dramas a se concretizar daqui uns meses.
Só que aí, o inesperado aconteceu. Um certo dia, o pequeno começou a se mostrar irritado e desconfortável com alguma coisa, ele apontava o dedo para a boca, encostando na lígua e chorava angustiado. Com uma irmã formada em odontologia em casa, pedi ajuda. Ela deu uma olhada e viu a gengiva inchada, mostrando a saída próxima dos molares inferiores. E aí, quando ele chorava desconsolado, sensibilizada pela sua dor, eu lhe dava a chupeta sem titubear. Só que ele a colocava na boca e em seguida jogava longe. E passou a fazer isso direto, aceitando a tal da "pi" apenas algumas vezes. Nisso, ele acabou passando a pegar no sono à noite sem a chupeta, e mesmo de madrugada, quando ele acordava e eu tentava usá-la para fazê-lo voltar a dormir, ele arremessava a pobre coitada longe, virava pro lado e dormia. E foi aí que eu e o respectivo vimos a oportunidade: para quê esperar até o final do ano se o próprio pequeno estava se "auto deschupetinizando"?! Tiramos a chupeta do alcance da visão dele e paramos de oferecer. Vez ou outra ele pediu, nós desconversamos e rapidamente ele esqueceu. E foi assim que, num processo aproximado de 15 dias, tiramos a chupeta da vida do pequeno. Ou ele mesmo tirou. A impressão que eu tenho é que foi ele que escolheu isso, que ele escolheu o momento ao perceber que não precisava mais dela. Afinal, já haviam nascido 10 dentes na sua boquinha e em cada um deles ele se agarrou à sua querida "pi" como um náufrago se agarra a um bote salva vidas. O que fez ele subitamente passar a jogá-la longe, eu jamais saberei. Só sei que ele deu fim a um processo de meses de ansiedade numa quinzena inesperada e não planejada. E eu fiquei lá, observando mais uma vez ele se resolver sozinho, fazendo mais uma vez com que as minhas preocupações parecessem extremamente bobas.
Já faz aproximadamente 1 mês que ele não usa e nem pede. Ficamos receosos que no retorno da creche ele fosse voltar ao pedir, já que veria os coleguinhas usando. Niente. Tínhamos até guardado uma just in case, mas acho que já é seguro nos livramos dela também. Reparei que, ainda durante as férias, ele acabou compensando a falta da chupeta com outras coisas. Pedia mais para mamar - principalmente nos momentos que ele recorria a ela, como quando ele acorda das sonecas - e se apegou também ao tablet. Nós baixamos alguns desenhos e levamos na viagem para nos acudir nos momentos que ele precisasse ficar quietinho/concentrado, como durante o vôo (e de fato ajudou muito!), e ele acabou se apegando nisso. Acabamos deixando ele pegar no sono à noite algumas vezes assistindo o tablet, para compensar a falta da chupeta, com a resolução clara de que não faríamos o mesmo em casa. Ele chegou a pedir pelos desenhos no meio da madrugada, o que eu imagino que tenha sido apenas uma confusão causada por um misto de sono e anseio de pedir por algo que o confortasse e o fizesse voltar a dormir. Mas desde que voltamos para casa ele voltou a dormir tranquilo sem precisar disso. E sem precisar da chupeta. A mamadeira ele continua pedindo um pouco mais do que o normal, mas eu não vejo mal nenhum em dar. Aos poucos acredito que ele vai precisar cada vez menos.
Se essa crença vem de uma nova Manu, mais tranquila e menos ansiosa? Talvez. Gosto de pensar que eu sou capaz de aprender com as situações e superar meus defeitos (Yes, I can!). E vejo até que algumas vezes eu de fato reajo com menos intensidade. Mas outras não. Confesso que a maioria das vezes acabo agindo como a velha ansiosa de sempre. Ainda há muito a melhorar. E ainda há muito que se viver com o pequeno. Quem sabe até ele desfraldar, entrar no colégio, tiver as primeiras namoradas, aprender a dirigir, sair de casa, fazer faculdade, casar, tiver filhos, eu tenha conseguido aprender a domar essa ansiedade que habita em mim... 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/68468856804406024/

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