quarta-feira, 9 de março de 2016

BE-YOU-tiful.

Esses dias eu vivi uma situação que me deixou com o coração em pedaços. Eu estava no shopping com o pequeno e esperava o elevador. Quando entrei, havia três meninas e uma senhora. Pareciam ser irmãs com a sua avó, uma devia ter por volta de 14 anos, outra uns 10, e a menor uns 6 talvez. Sou péssima chutando idades. Anyway. As três lindas mulatas, com seus cabelos encaracolados caprichosamente arrumados. Logo que entrei com o pequeno a atenção se voltou para ele. "Que coisa mais linda", uma delas disse. E ele, faceiro como sempre, começou a fazer farra. Em meio aos vários "óuns" e elogios, a do meio solta: "Olha só, ele tem tudo que a gente não tem. É branco, loiro, de cabelo liso e olhos claros". Senti meu coração parar por um momento. Fiquei tão pasma com a sinceridade daquela declaração que eu simplesmente não soube o que dizer. Perdi a oportunidade, como me chamou a atenção o respectivo. Podia ter enaltecido a beleza dela, falado alguma coisa que a fizesse se sentir melhor consigo mesma, mas o choque não me permitiu raciocinar como deveria. Me reconheci nela. Não pelas características apontadas, mas por ter passado boa parte da minha vida querendo mudar várias coisas na minha aparência, desejando até mesmo ser outra pessoa. E me doeu perceber quão cedo essa cobrança interna começa. Não muito mais de 10 anos ela deveria ter, mas já havia nela uma auto estima em xeque, auto estima essa que provavelmente demorará anos até se firmar. SE um dia isso acontecer.
Quando será que nos sentimos mal ou insatisfeitas pela primeira vez por sermos nós mesmas? Eu não lembro quando isso aconteceu comigo, só lembro de me sentir assim durante muito tempo. Às vezes eu ainda me sinto. Eu sou branca demais, magra demais, tenho peito de menos, altura de menos. Não gosto do meu nariz, das minhas bochechas, da minha bunda, da minha barriga. Queria que meu rosto fosse mais quadrado, a maçã do rosto mais marcada, que aparecesse menos gengiva quando eu sorrio, que eu não enchesse de sardas quando pego sol. Quanto tempo já perdi encarando fotos, analisando detalhes, tentando me convencer que sim, eu até que sou bonita. Mas seria muito mais se eu pudesse mudar várias coisas em mim. A primeira delas? Minha auto estima. E não acho que isso seja um privilégio só meu. Tenho várias amigas lindas - dessas de parar o trânsito, como se diz por aí - que também se questionam assim. Pensando bem, acho que eu nunca conheci uma mulher que não tivesse ao menos um momento desses de baixa auto estima na sua vida. Será que isso faz parte do pacote de portar dois cromossomos X? Será que quando Deus nos criou, ele pensou: "toma aqui, um útero, dois ovários e um punhado de insegurança"? Provavelmente não. Mas a gente segue se questionando, desejando qualquer coisa que a outra tenha que não seja o que nós temos naturalmente.
Ontem foi dia internacional da mulher. Um dia para celebrar uma infinidade de conquistas que nós tivemos ao longo do tempo. Direito ao ensino superior, direito a votar e ser votada, à participação nos esportes, a trabalhar fora de casa, ao divórcio, a usar calças (!!!), à equiparação salarial, à proteção contra a violência doméstica, à igualdade de direitos e deveres perante a lei. E o mais básico dos direitos nós não conseguimos conquistar: o amor próprio. Ele tá ali, à nossa disposição. Mas nós insistimos em achar utópico demais nos aceitar exatamente como somos. Com todos os defeitos e qualidades, principalmente as qualidades, essas danadas que insistem em escapar aos nossos olhos. Eu sigo nessa luta há uns bons 20 anos, se não mais, e confesso que não sei se um dia essa minha luta particular terá fim. Aliás, escrevo esse post sem ter uma dica bacana de como lidar com baixa auto estima ou com uma solução mágica para essa insegurança toda. Mesmo com tudo que eu já conquistei nessa vida, sigo me questionando. Sigo brigando com a balança, com o espelho e com quem mais ousar me mostrar quem eu sou. Sigo, assim como você linda menina morena dos cabelos cacheados e olhos de jabuticaba a quem eu falhei seriamente por não ter lembrado da própria beleza, desejando ter tudo que eu não tenho e que um milhão de outras pessoas tem.  

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