Final de ano foi um
tanto quanto tumultuado. Um Natal para ser esquecido – como eu
acabei nomeando – mas sobre o qual eu pretendo escrever em outro
momento. 2016 chegou e eu mal senti. Lá se vai quase um mês dos
fogos e do estouro do champagne, e eu totalmente ausente por aqui.
Venho querendo sentar para escrever, mas não conseguia sair da
inércia por nada. Aí esses dias eu tive o empurrão que eu
precisava. De todas as coisas que me inspiram, situações de tensão
estão no topo do ranking. Toda vez que eu vivo um momento desse
tipo, fico ruminando dentro de mim cada coisa que eu devia ter feito
ou falado naquela hora, mas não consegui em função do nervosismo.
Ou algo que não fiz porque não seria educado, mas que teria sido
libertador se eu tivesse culhões para mandar a política da boa
vizinhança passear. E aí escrever vira o meu escape, a minha forma
de desabafo, uma maneira de repensar e reler o que aconteceu, e quem
sabe descobrir se havia algo que eu poderia ter feito diferente.
Respectivo esteve de
aniversário essa semana (congrats again, my love). Como não poderia deixar de ser, planejamos
uma festinha em casa com alguns amigos para celebrar seus 32 anos de
vida. E na noite anterior combinamos de ir ao mercado comprar as
coisas. Saí do trabalho, busquei o pequeno na creche e lá a epopeia
teve início. Pequeno estava sentado brincando na salinha que fica
logo na entrada na creche, lugar que costuma estar todo dia quando
vou buscá-lo. Geralmente ele me vê, abre o sorriso mais lindo e
rasgado do mundo e vem correndo. Nesse dia em especial, ele estava
compenetrado brincando. Com um pote e uma colher na mão, fingia
comer com direito a mastigar uma refeição invisível. Coisa mais
fofa. Ele me viu, não esboçou nenhuma reação e voltou para a sua
colher. Depois de uns cinco minutos ali parada, convidei ele para ir
embora. Nada. Repeti o convite várias vezes. E ele várias vezes
nada para mim. Já era tarde, restava apenas ele e outro pequeno na
creche, e nós precisávamos ir embora. Resolvi entrar sutilmente no
espaço dele, pegá-lo no colo para enfim ir embora. No mesmo momento
a choradeira começou. Expliquei para um pequeno aos prantos se
debatendo no meu colo que era hora de ir, mas que ele podia pedir
emprestada a colher e o potinho para a tia da creche. Ela gentilmente
me entregou e ele se acalmou. Saímos tranquilos a caminho do
mercado. Chegando lá, coloquei-o no carrinho de compras com assento
para bebês e fui aos afazeres. No momento em que chegamos no setor
de hortifruti, meu inferno pessoal começou. Ele viu os cachos de
bananas pendurados, soltou um “ba” e ficou apontando até eu lhe
entregar uma. Só que ele não queria simplesmente segurar, ele
queria comer. Para isso, eu precisava pelo menos pesá-la. E lá
fomos nós aos berros até a balança pesar as bananas para que eu
pudesse enfim entregar-lhe e satisfazer seu desejo. A choradeira foi
tal a ponto do funcionário que pesava as frutas comentar “esse tem
vontade, hein?!”. Banana entregue, de volta à calmaria. Que só
durou o tempo que a boca dele esteve ocupada com a dita cuja. Dali
para frente, todo o trajeto – colocar as compras no carrinho,
depois na esteira do caixa, empacotar, colocar de volta no carrinho,
sair do mercado – foi feito sob protestos dele. Alternando entre
choramingar baixinho, ficar quieto por brevíssimos momentos e chorar
alto usando toda a capacidade dos seus pequenos pulmões. E assim eu
posso resumir os poucos mais de 60 minutos – os quais na verdade
pareceram durar uma enternidade – que eu passei no mercado:
empurrando no carrinho uma choradeira ambulante sob um mundo de olhos
julgadores.
A você que estava
naquela noite naquele mercado e presenciou essa minha breve tragédia:
minhas sinceras desculpas. Eu não queria que meu filho estivesse
chorando. Acredite, se o choro dele estava incomodando você, estava
me incomodando mil vezes mais. Mas não havia nada que eu pudesse
fazer. Ele não estava sendo maltratado, torturado, passando fome ou
algo do gênero. Ele simplesmente estava frustrado porque ele não
queria estar lá. Ele queria estar sentadinho na creche brincando de
comer, de onde eu não deveria sequer ter tirado ele para início de
conversa. Ele foi privado sem aviso prévio do seu momento de
diversão para me acompanhar numa tarefa que nem eu gosto de fazer.
Meu pequeno é ativo, gosta de andar, correr, explorar. Se tem uma
coisa que ele não gosta é de ficar sentado quietinho. Aliás, raras
são as vezes que eu vejo ele assim, sentado quietinho. Mas entenda,
se eu tivesse feito a vontade dele, tirado ele do carrinho e deixado
ele correr pelos corredores do mercado, eu teria levado no mínimo
dez vezes mais tempo para terminar as compras. Só que eu tinha um
horário para cumprir e por isso tive que deixar meu filho
frustrado. Tudo que eu pude fazer foi tentar distrai-lo com o que
havia disponível no momento e, quando mais nada funcionou, respirar
fundo, encontrar a minha paz interior e aceitar a situação sem
perder a calma.
A você que me olhou
torto, ao senhor que estendeu a mão fazendo gracinhas pro meu
pequeno falando “que bebêzinho mais chorão”, ao moço da
balança que foi contundente ao enfatizar o temperamento do meu
pequeno, ao caixa e à empacotadora que fingiram não estar rindo no
único momento que eu consegui levantar os olhos para pagar a conta,
eu tenho apenas um pedido: na próxima vez que isso acontecer, façam
o seu melhor esforço para ignorar aquele bebê choroso. Seja ele o
meu pequeno ou qualquer outro. Eu posso seguramente lhe garantir,
seja qual mãe que for, ela estará se sentindo péssima com aquela
situação. Ela estará querendo se enfiar num buraco e sumir, ou
querendo chorar junto com a sua cria, ou respirando até os confins
do seu pulmão para ter a paciência que aquele momento exige. E o
seu comentário ou a sua brincadeirinha provavelmente não vão
ajudar em nada, muito menos fazer o bebê parar de chorar. O que nós
precisamos, e que vai de fato nos ajudar a enfrentar a pressão
daquele momento difícil, é do seu poder de abstração. Finja que
não nos viu, olhe para o outro lado e continue com a sua vida. Tente
não transparecer no seu rosto o seu pensamento reprovador de que
seus filhos não eram, não são ou não serão assim. Eu não sou
você, e meu filho não é o seu. Acredite, bebês choram e 99,99%
das mães e pais estão fazendo seu melhor para que isso não
aconteça ou, para quando acontecer, que pare o quanto antes.
Ao meu pequeno, minhas
sinceras desculpas. Eu teria te deixado brincando se eu pudesse, mas
a gente nem sempre pode fazer o que quer. Nem sempre os momentos são
feitos de brincadeiras e diversão. Muitas vezes você terá que
enfrentar a frustração de estar em algum lugar que você não
gostaria de estar ou fazendo algo que você não gostaria de fazer.
Eu estarei ao seu lado sempre que eu puder amenizando o que eu puder,
mas não poderei te livrar totalmente dessas situações. Faz parte
da vida. E se a sua saída hoje e pelos próximos meses (quero
acreditar otimista que serão apenas meses e não anos..) é chorar,
te prometo fazer o meu melhor para ignorar o mundo, ignorar olhares
acusadores e o sentimento de vergonha que estará tomando conta de
mim e me concentrar apenas em você. Te prometo fazer o meu melhor
para respirar fundo e acolher a tua frustração sem perder a calma.
Às mães e bebês para
quem um dia eu olhei torto, eu sinto muito. Hoje eu entendo o quanto
eu fui indelicada. E às outras mães que se pegam tendo que lidar
publicamente com um bebê choroso, prometo que farei meu melhor
esforço para seguir meu caminho e cuidar da minha própria vida,
enquanto internamente te ergo minha mão em high five dizendo
“Tamo junto!”.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/410038741047364266/ |
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